Era noite. De repente a voz de Fidel começou a sair do rádio do acampamento em Piñar Del Rio. O discurso era dramático. O líder da revolução cubana se dirigia à nação para admitir um dos maiores fracassos da revolução: o planto de ter uma safra de 10 milhões de toneladas de açúcar e 4 de melaço.  O discurso foi dramático. Os jovens latino-americanos que treinavam guerra de guerrilha no acampamento ouviram o comandante dizer que era preciso transformar o revés em vitória. Os instrutores do futuros guerrilheiros não tiveram dúvida do significado das palavras de Fidel. Às 4 horas, tocaram o alarme no acampamento. A alvorada ocorreria 1 hora e meia mais cedo naquele dia. Era a forma de os instrutores mostrarem a todos que era possível superar o revés. “Tivemos de acordar bem cedo e sair em marcha”, conta o jornalista Franklin Martins, um dos jovens que treinavam na Ilha para combater a ditadura militar brasileira.

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Franklin era dirigente do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e participante do grupo que sequestrou o embaixador americano Charles Burke Elbrick, em 1969, no Rio. O diplomata brasileiro seria solto em troca da libertação de 15 presos, entre eles o ex-ministro de Lula, José Dirceu. Depois do sequestro, Franklin deixou o Brasil e foi para a Argentina. De lá, embarcou para a Tchecoslováquia, para só então seguir para Cuba. Permaneceu pouco menos de 10 meses na Ilha, onde treinou táticas de guerrilha urbana e rural, além de técnicas de tiro e de explosivo. Saiu da Ilha para tentar preparar a volta de integrantes do MR-8 por meio da Amazônia. Mas o projeto se mostrou inviável. Então, foi ao Chile, onde permaneceu cerca de 2 anos para restabelecer um rota entre os militantes exilados e o interior do Brasil.

Nos anos 1990, Franklin ocupou cargos importantes em redações do Rio e de Brasília – acabaria se tornando ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social durante o governo Lula. Ele soube hoje, às 6 horas, da morte de Fidel Castro.  “A importância da Revolução Cubana para as organizações foi simbólica. Ela mostrava que era possível derrubar as ditaduras da América Latina, sempre apoiadas pelos Estados Unidos. E Fidel simbolizava essa ideia de que era possível lutar e vencer”.

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