O ex-presidente cubano, Fidel Castro, mostrou-se “disposto a conversar” com o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, embora descarte a possibilidade de que o novo governo em Washington vá melhorar automaticamente as relações dos EUA com Cuba. “Com Obama se pode conversar onde se quiser, já que não somos pregadores da guerra”, disse o líder revolucionário em uma de suas habituais “reflexões”, a coluna de opinião na qual gosta de se comunicar com seus opositores.
“Deve-se lembrar que a teoria da cenoura e do garrote não se aplica ao nosso país”, acrescentou Fidel, referindo-se à política de sanções norte-americanas contra a ilha, que já dura mais de quatro décadas, imposta na tentativa de estrangular o sistema comunista de governo. Recentemente, o atual presidente de Cuba, Raúl Castro, disse em uma entrevista que estava disposto a conversar com Obama, mas em um local neutro, fora do território dos Estados Unidos.
Fidel fez uma análise de várias declarações feitas por Obama sobre a ilha durante sua campanha e o anúncio, em maio, do então candidato – ante um poderoso grupo de cubano-americanos – de manter o embargo à nação caribenha. “Não deixei der ser amável com o candidato de pele negra, em quem via capacidade muito maior e domínio da arte da política do que nos candidatos adversários, não apenas no partido opositor, mas também em seu próprio partido”, disse Fidel.
O ex-presidente cubano também aproveitou para fazer reflexões sobre os integrantes do gabinete de Obama, especialmente a ex-rival do presidente eleito dos EUA, Hillary Clinton, que será secretária de Estado. “Não esqueço, de minha parte, que foi a esposa do presidente (Bill) Clinton que sancionou as leis extraordinárias Torricelli e Helms Burton contra Cuba. Durante sua luta pela aprovação da medida, ela se comprometeu com as leis e com o bloqueio econômico. Não me esqueço, simplesmente faço constar”, assinalou.
Assim mesmo, o líder cubano mostrou surpresa pela continuidade de Robert Gates, que ocupa o cargo de secretário de Defesa no governo George W. Bush e manterá o posto sob Barack Obama. Ao longo dos anos, Fidel não poupou adjetivos negativos em relação a Bush, a quem chamou de medíocre, fundamentalista e até alcoólatra. O governo Bush foi um dos mais duros contra Havana e nunca ocultou seu compromisso com os exilados cubanos mais radicais. Fidel insistiu na necessidade de fazer uma análise “serena e sossegada” da situação antes de aderir à “poderosa maré de ilusões que Obama despertou na opinião pública internacional”.