O presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, apresentou ontem seu gabinete, que inclui Martín Guzmán, um jovem acadêmico heterodoxo, como ministro da Economia. Guzmán, de 37 anos, propõe a reestruturação da dívida de cerca de US$ 100 bilhões com credores internacionais e com o FMI.
Colaborador nos EUA do prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, Guzmán defende uma abordagem econômica heterodoxa – em contraposição à ortodoxia, ligada às políticas liberais e de austeridade. Uma das ideias do novo ministro é adiar por dois anos o pagamento de juros da dívida soberana, mediante acordo com credores. Diretor de um programa de reestruturação de dívida e pesquisador da Universidade Columbia, o jovem é também professor da Universidade de Buenos Aires.
A escolha pode definir o rumo da terceira maior economia da América Latina nos próximos quatro anos, com impacto na vida de produtores de grãos, investidores e credores envolvidos em conversas com a Argentina sobre a dívida soberana – em meio a temores de calote.
A Argentina é um dos maiores exportadores de alimentos do mundo. O mercado financeiro e o peso argentino estão sob pressão desde que Fernández obteve uma expressiva vitória nas eleições primárias, em agosto, um resultado surpreendente que indicou que os dias de Mauricio Macri à frente da Casa Rosada estavam contados.
Guzmán, que tem doutorado pela Brown University e graduação na Universidade Nacional de La Plata, é membro da Força-Tarefa do Novo Pensamento Econômico sobre Eficiência e Estabilidade Macroeconômica, presidido por Stiglitz. Ambos foram críticos das medidas de austeridade fiscal contidas no acordo de financiamento de US$ 57 bilhões acertado por Macri com o FMI.
O novo ministro também era crítico da política econômica de Macri e acredita na necessidade de “corrigir os desequilíbrios macroeconômicos” da Argentina – visão parecida com a de Fernández, que defende ser fundamental “crescer antes para pagar a dívida depois”. Guzmán até mesmo já usou a mesma frase do ex-presidente Néstor Kirchner, que dizia que “os mortos não pagam”.
Gabinete
A equipe de Fernández, que assumirá a presidência na terça-feira, terá como chefe de gabinete Santiago Cafiero, seu braço direito. Ele é licenciado em ciências políticas, tem 40 anos e é neto do histórico dirigente Antonio Cafiero e filho de Juan Pablo, ex-embaixador de Cristina Kirchner no Vaticano.
Para o Ministério da Produção, o presidente escolheu Matías Kulfas, professor universitário de 47 anos e uma das referências em economia para Fernández. Com experiência em gestão, seu trabalho tem como base programas de apoio financeiro para as pequenas e médias empresas.
O deputado peronista Felipe Solá, engenheiro agrônomo de longa trajetória política, será o chanceler. Fernández se referiu a ele como “meu amigo de quase toda a vida”. O presidente eleito disse que o escolheu para expressar a posição de seu governo com “lógica política”, em vez de “lógica diplomática”, e com a missão de ser o responsável pelo comércio exterior.
O nome de Solá já havia sido anunciado na quinta-feira por Fernández durante uma reunião com deputados brasileiros em Buenos Aires. Na ocasião, ele também anunciou que o ex-vice-presidente argentino Daniel Scioli será o novo embaixador do país em Brasília. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.