Foto: Lucimar do Carmo/O Estado |
A enfermidade é causada pelo vírus FIV, que é morfológica e bioquimicamente parecido com o HIV (vírus que causa a aids humana). |
Uma das doenças que mais assusta médicos veterinários, criadores e proprietários de gatos é a Imunodeficiência Viral Felina, mais conhecida como aids felina, por causar comprometimento do sistema imunológico dos pacientes e ter características bastante semelhantes com a aids que acomete seres humanos.
A enfermidade é causada pelo vírus FIV, que é morfologica e bioquimicamente parecido com o HIV (vírus que causa a aids humana). Porém, é antigenicamente diferente e por isso não transmissível ao homem, como muitas pessoas erroneamente podem acreditar. Desta forma, a doença não é considerada uma zoonose.
?Quando é constatado que um gato é vítima de aids, as pessoas costumam ficar assustadas e preocupadas que a doença possa ser transmitida a seus familiares. Entretanto, a aids felina, como o próprio nome diz, ataca felinos e não seres humanos?, esclarece a médica veterinária Marúcia de Andrade Cruz, responsável pela clínica Mania de Gato, em Curitiba, que é especializada no atendimento de felinos.
Além do FIV ser considerado bastante parecido com o vírus HIV, a Imunodeficiência Viral Felina tem uma evolução bastante semelhante à Imunodeficiência Viral Humana, geralmente causando bastante sofrimento aos animais que são portadores. Segundo Marúcia, o FIV ataca os linfócitos (células de defesa do organismo), fazendo com que os mesmos fiquem sem ação e com que o organismo fique mais suscetível a infecções secundárias, como por exemplo uma pneumonia, que aparece em conseqüência de uma gripe.
Foto: Lucimar do Carmo/O Estado |
Marúcia: ?Quando é constatado que um gato é vítima de aids, |
?Geralmente desconfiamos que um gato é portador do vírus FIV quando ele é vítima de doenças que aparecem de forma repetitiva. Muitas vezes, as vítimas da aids felina retornam seguidamente ao consultório veterinário em função de uma mesma enfermidade, como por exemplo otite (inflamação no ouvido) e micoses de pele?, afirma. ?A confirmação do diagnóstico se dá através da execução de exame sorológico. O mais comum é chamado de Elisa, sendo feito em laboratório ou consultório e custa cerca de R$ 150.?
Como acontece com o HIV, o FIV pode ficar incubado no organismo do animal. Geralmente isto acontece por um curto período de tempo (em média três anos). Nesta fase, normalmente não é realizado tratamento medicamentoso, sendo indicado apenas que o animal seja mantido longe de situações de estresse, seja vacinado normalmente, passe por desvermifugação periódica, seja mantido principalmente em ambientes internos (para que não entre em contato com agentes infecciosos) e receba reforço na alimentação.
A doença em si, ou seja, a aids felina, costuma começar a se manifestar logo depois que o animal é submetido a uma situação de estresse, como por exemplo surgimento de alguma outra enfermidade, mudança de casa, mudança de proprietário ou chegada de um novo bicho na família, que lhe tire a atenção exclusiva dos donos ou com o qual ele tenha que dividir o mesmo espaço. Os sinais clínicos mais comuns do problema são: anemia, mucosas pálidas, perda de peso, apatia, diarréia e perda de apetite. Nestes casos, o tratamento envolve fluidoterapia (para hidratação do felino), mudanças na alimentação e terapias com antivirais e imunomoduladores.
Tanto no período em que o vírus se mantém incubado quanto no momento em que a doença começa a se manifestar, é importante que o gato infectado não tenha muito acesso à rua. Isto porque a transmissão do FIV é feita principalmente através de mordidas que ocorrem em situações de briga e no momento do acasalamento (quando o macho costuma segurar a fêmea pelo pescoço). ?O vírus fica contido em todas as secreções do gato contaminado, mas principalmente na saliva. Desta forma, ele é inoculado (agindo como uma injeção no tecido subcutâneo) no momento em que ocorre uma mordida.?
A aids felina costuma ser mais comum em machos do que em fêmeas, pois aqueles costumam se envolver mais em brigas do que estas. O FIV também é encontrado no sêmen dos gatos contaminados, mas a transmissão via sexual é considerada menos freqüente. Fêmeas também podem transmitir o vírus a seus filhotes via placentária ou através do leite materno, no momento da amamentação. Entretanto, animais idosos costumam ser mais suscetíveis ao problema, pois devido à idade normalmente já possuem o sistema imunológico mais enfraquecido quando comparados a felinos jovens.
Para evitar a doença – que também pode acometer gatos selvagens, como tigres, leões e leopardos – é indicado castrar os animais (tanto os machos quanto as fêmeas) precocemente, evitando assim que eles saiam às ruas para acasalamento ou mesmo para se envolver em brigas. Não existe vacina para a Imunodeficiência Viral Felina e a enfermidade é considerada fatal, levando o animal à morte. O óbito costuma acontecer cerca de seis meses após os sinais clínicos do problema começarem a se manifestar.
Vírus da leucemia contamina gatos
Foto: Arquivo/O Estado |
Causada pelo vírus FeLV, a leucemia felina atinge o sistema imunológico, fragilizando o animal. |
Outra doença viral que acomete com freqüência os gatos e é muito semelhante à uma enfermidade humana é a leucemia felina. Causado pelo vírus FeLV, o problema também atinge o sistema imunológico, fragilizando bastante o organismo do animal.
Da mesma forma que a leucemia verificada em seres humanos, a felina age na medula óssea, interrompendo a fabricação de leucócitos, que são os glóbulos brancos do sangue. Ela é transmitida de um animal a outro através da saliva, urina e fezes.
Assim como a aids felina, também é passada de mães para filhotes através da placenta e do leite materno. ?A transmissão acontece quando gatos saudáveis e gatos contaminados lambem uns aos outros, comem na mesma vasilha e utilizam a mesma caixa de areia para fazerem suas necessidades?, informa Marúcia.
De acordo com a veterinária, a leucemia felina pode ter dois quadros clínicos: degererativo ou proliferativo. No primeiro caso, a doença acaba com a imunidade do paciente, que fica sujeito a uma série de infecções secundárias. O quadro degenerativo provoca alterações no organismo muito parecidas com as provocadas pela aids, o que faz com que as duas enfermidades sejam freqüentemente confundidas.
?Diferenciamos a aids felina de um quadro degenerativo de leucemia por algumas características que dizem respeito ao modo de vida do animal e através de exame sorológico. A leucemia degenerativa tem praticamente os mesmos sintomas da aids, além de provocar lesões freqüentes na língua e no céu da boca (estomatites) e geralmente fazer com que fêmeas prenhas não consigam levar a gestação até o final, abortando os filhotes.?
Já o quadro proliferativo é considerado bem mais grave e agressivo, pois além de o animal ter problemas de imunidade passa a desenvolver neoplasias de diversos tipos, como intestinal, renal e nos linfonodos. ?Nos dois tipos de leucemia, o paciente necessita de medicamentos que tratem dos sintomas da doença. Porém, no caso proliferativo, o animal sente dor, passa a sofrer disfunção de órgãos e precisa passar por quimioterapia.?
Para prevenir o aparecimento da doença, é importante garantir boas condições de higiene aos felinos, não permitir que animais domésticos tenham contato com animais de rua, não deixar a comida dos felinos exposta (podendo ser acessada por outros animais doentes) e promover vacinação periódica. A primeira dose da vacina que previne a leucemia deve ser dada ao animal quando ele estiver com sessenta dias de vida. A segunda, deve ser dada aos noventa dias. Posteriormente, há necessidade de que seja aplicada uma dose de reforço anual.
Tanto o vírus da leucemia quanto o da aids morrem com a ação de detergente comum. Por isso, se houver suspeita de que um animal contaminado teve acesso à área onde um felino sadio é mantido, basta lavar o chão e as vasilhas utilizadas para colocar a alimentação do gato com água sanitária.