Quando a polícia chinesa foi buscar Liu Xiaobo numa noite de dezembro, há aproximadamente dois anos, não soube explicar por que ele estava sendo preso novamente. No documento que continha a ordem de prisão, a linha sobre o crime cometido estava em branco. Apesar disso, Liu e os policiais que entraram em seu apartamento sabiam o motivo – faltavam poucas horas para que ele divulgasse a Cartilha 8, um manifesto que pedia por uma reforma política pacífica. O documento era considerado pelo Partido Comunista chinês um desafio direto ao seu monopólio no poder.

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Liu, que durante as duas últimas décadas passou vários períodos na prisão e em campos de reeducação, perdeu a calma ao ver a ordem de prisão em branco. No último Natal, Liu, de 54 anos, foi sentenciado a 11 anos na prisão por subversão. Agora, ele é um dos favoritos para vencer o prêmio Nobel da Paz, o que criaria uma situação embaraçosa para o governo chinês. Ele representa a maior chance que o movimento dissidente da China já teve para aparecer na premiação desde que começou a pressionar pela democracia no país. No ano passado, o Nobel da Paz foi concedido ao presidente dos EUA, Barack Obama. Entre os possíveis competidores deste ano, está o primeiro-ministro de Zimbábue, Morgan Tsvangirai.

Em um sinal de preocupação das autoridades chinesas com a potencial nomeação de Liu como o Nobel da Paz, o vice-ministro de Relações Exteriores da China pediu ao Instituto Nobel que não conceda o prêmio para um dissidente, conforme relatou o diretor do Instituto nesta semana. Outro sinal da insatisfação oficial foi um editorial publicado no jornal estatal Global Times que chamou Liu de radical e separatista.

Na China, a polícia continua ameaçando e questionando as mais de 300 pessoas que assinaram inicialmente a Cartilha 8, de coautoria de Liu. Mesmo diante do risco, milhares de pessoas assinaram o documento após a divulgação.

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A Cartilha 8 é uma referência à Cartilha 77, que pediu por direitos humanos na então Checoslováquia e que levou à Revolução de Veludo, em 1989, movimento que afastou o regime comunista do poder. O manifesto chinês pede mais liberdades e o fim do domínio político do Partido Comunista. “A democratização da política chinesa não pode mais ser adiada”, afirma o documento.

O arcebispo Desmond Tutu, o líder espiritual tibetano, Dalai Lama, e o coautor da Cartilha 77, Vaclav Havel – todos nomeados Nobel da Paz em ocasiões anteriores – engrossam o coro para que o prêmio seja concedido a Liu atualmente. Acadêmicos dentro e fora da China montaram campanhas em para defender o mesmo.

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“Se eu fosse o Partido Comunista chinês, eu o libertaria agora. Libertaria. Agora. Assim não haverá humilhação e será bom para todos”, disse Jean-Philippe Beja, acadêmico especialista em China do Centro de Pesquisas e Estudos Internacionais de Paris, um amigo de longa data de Liu. As informações são da Associated Press.