O aumento da demanda alimentar, as mudanças climáticas e o incremento demográfico impõem a adoção de estratégias que otimizem as fontes de água no mundo, que retrocederam 20% nos últimos anos, alertou nesta terça-feira a Fundação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO).

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Esse complexo quadro, em meio à atual crise alimentar impulsionada pelo notável aumento dos preços dos grãos, foi traçado por Pasquale Steduto, diretor da unidade de gerenciamento dos recursos hídricos da FAO, em entrevista à ANSA.

Seduto alertou que nos últimos 20 anos, 20% das fontes de água mundiais foram perdidas devido a seu uso para a agricultura, que consome 70% da água doce para a irrigação das plantações, número que pode chegar a 95% em vários países em desenvolvimento.

No Ano Internacional da Água para a Saúde, e em vista da cúpula sobre mudanças climáticas e emergência alimentar prevista para 3 e 5 de junho em Roma, a FAO lança um alerta sobre a preocupante situação hídrica mundial.

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Esse problema á a causa de morte de 3.800 crianças por dia, devido à falta de água potável e de instalações higiênico-sanitárias.

"O problema da escassez de água é complexo e deve ser enfrentado de distintos pontos de vista, físico, econômico e político. Um número cada vez maior de regiões sofre a falta crônica de água e o problema se agrava em zonas áridas, onde vivem mais de 2 bilhões de pessoas, a metade delas, pobres", disse o especialista da FAO.

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"Além disso, há uma diminuição progressiva no fluxo de água das maiores fontes hídricas do mundo", "nos últimos 20 anos, só na área da África do Norte e do Oriente Médio se perdeu mais de 20% da água dos rios Nilo, Tigre, Eufrates e Jordão", destacou.

A situação não é melhor no leste nem nos países desenvolvidos, segundo Steduto, e também perdem água progressivamente o rio Amarelo na China, o Colorado no Arizona, Estados Unidos, e o Murray-Darling na Austrália.

Com o aumento da população mundial que passará dos atuais 6,5 bilhões de pessoas para 8,1 bilhões em 2030, a FAO estima que 14% a mais de água deverá ser direcionado à agricultura.

 "Mas o ciclo biológico não poderá garantir uma implementação do alcance dessas dimensões em pouco tempo, a única possibilidade é otimizar as fontes existentes", disse Steduto.

Entre os tipos de produção agrícola, a zootécnica é a que mais incide no consumo de água. Para produzir, por exemplo, um quilo de carne de vaca alimentada com capim, são necessários 15 mil litros de água.

"À luz dessas proporções é claro que, nos próximos anos, deveremos rever também nosso teor alimentar e nossa dieta", acrescentou o especialista.