A conferência sobre a guerra civil na Síria começou na quarta-feira em Montreux, na Suíça, com a participação de mais de 40 países, mas a ausência do Irã é bastante representativa. A Organização das Nações Unidas (ONU) convidou o governo iraniano para as negociações, mas retirou o convite após reclamações dos Estados Unidos e da oposição síria, que ameaçou não participar do evento se representantes de Teerã comparecessem ao evento.
A ausência do mais forte aliado regional de Damasco ficou mais evidente porque os maiores partidários da oposição estavam todos presentes: Arábia Saudita, Catar e Turquia. A questão da participação do Irã salienta como as potências mundiais que se alinharam tanto com Assad como com os rebeldes são cruciais para uma solução.
Como qualquer um dos atores regionais, o Irã pode prejudicar as negociações ou ser a força que pressiona um dos lados a fazer concessões.
“A decisão de excluir o Irã das conversações de Montreux foi um enorme erro diplomático”, disse David Cortright, diretor de estudos políticos do Kroc Institute for International Peace Studies. “Como um dos principais apoiadores do atual regime, o Irã tem enorme poder de influência sobre Damasco”, disse ele.
Como as conversações foram interrompidas nesta quinta-feira, mas devem ser retomadas no dia seguinte, o presidente do Irã, Hassan Rouhani, disse a uma audiência do Fórum Econômico Mundial em Davos, também na Suíça, que o Irã está “totalmente preparado” para envolver-se com seus vizinhos numa série de questões regionais, o que inclui o conflito sírio.
“A melhor solução é organizar eleições livres e justas na Síria”, disse ele. “Nenhum partido ou poder externo pode decidir pelo povo sírio e pela Síria, como país.”
O conflito sírio, que está em seu terceiro ano, enfrenta um sangrento impasse, que de muitas formas favorece o governo de Assad. Nenhum dos lados conseguir superar militarmente o outro, mas as forças de Assad ganharam certo impulso e seu governo e seu Exército se mantém coesos, enquanto os rebeldes enfrentam confrontos internos entre extremistas islâmicos e facções mais moderadas.
A dinâmica militar em solo dá poucas razões para Assad permitir a criação de um governo de transição do qual ele não faça parte, situação que Estados Unidos e oposição dizem ser o objetivo da conferência de paz.
O Irã, dominado pelos xiitas, investe na manutenção financeira do governo de Assad com o envio de armas e apoio à ação do Hezbollah e de milícias xiitas iraquianas que lutam ao lado do Exército sírio. Teerã é inflexível em garantir a sobrevivência de seu aliado.
Já a Rússia, antiga aliada da Síria, tem dado a Damasco importante cobertura diplomática, impedindo a aplicação de sanções contra a Síria no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Do outro lado, os países sunitas do Golfo Pérsico – particularmente Arábia Saudita e Catar – , além dos Estados Unidos apoiam os rebeldes, na tentativa de conter a influência de seu rival, o Irã. Fonte: Associated Press.