O ex-presidente da Libéria, Charles Taylor, disse hoje que o caso movido contra ele no Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, na Holanda, é baseado em mentiras e informações incorretas. “É uma mentira, uma mentira diabólica.” Durante seu primeiro testemunho no tribunal, ele negou que tenha comandado e armado rebeldes que mataram e torturaram dezenas de milhares de civis. Taylor, o primeiro líder africano a ser levado ao tribunal por crimes de guerra, é acusado por 11 assassinatos, tortura, estupro, escravidão sexual, uso de crianças como soldados e terrorismo durante a guerra civil entre 1991 e 2002 em Serra Leoa.

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Um número estimado de 500 mil pessoas foram vítimas de assassinato, mutilações sistemáticas e outras atrocidades durante a guerra. Alguns dos piores crimes foram cometidos por “crianças soldados”, que eram drogadas para anular seus sentimentos com relação ao horror de suas ações. É “muito, muito desafortunado que o processo, por causa de desinformação, informações erradas, mentiras e rumores, associe a mim tais títulos ou descrições”, disse Taylor quando perguntado por seu advogado, o britânico Courtenay Griffiths, o que pensava sobre as acusações.

“Eu sou um pai de 14 filhos, tenho netos e defendi por toda a minha vida o que eu acho correto sob os interesses da justiça e honestidade”, disse Taylor ao tribunal. “Eu me sinto mal com essa caracterização que é feita de mim. É falsa, é mal intencionada”, acrescentou. Vestindo um terno cinza e óculos escuros, o ex-presidente falou com segurança ao se apresentar ao painel de três juízes como o 21º presidente da República da Libéria.

‘Diamantes de sangue’

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Os promotores do Tribunal Especial para Serra Leoa, apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU), dizem que Taylor liderou e armou rebeldes com o objetivo de conquistar o controle do país do oeste africano e sua vasta riqueza mineral, principalmente os chamados “diamantes de sangue”, extraídos por trabalhadores escravos. Mas Taylor afirmou que as acusações tiveram o objetivo retirá-lo do poder. “Todo esse caso tem sido sobre ‘vamos pegar Taylor'”, disse ele. “Eu não sou culpado de todas essas acusações.” O depoimento do ex-presidente tem como objetivo persuadir os juízes de que as 91 testemunhas apresentadas pela acusação desde janeiro de 2008 estão mentindo.

Algumas dessas testemunhas afirmaram que Taylor enviou armas para os rebeldes em sacos de arroz, numa contravenção ao embargo de armas, e, como pagamento, recebeu diamantes contrabandeados das minas de Serra Leoa em vidros de maionese. Ele negou a acusação. “Eu nunca recebi, nem em vidro de maionese, café ou outro produto, qualquer diamante da RUF”, afirmou, referindo-se à Frente Revolucionária Unida (RUF, pela sigla em inglês), que ele supostamente apoiou. Griffiths disse que seu cliente vai testemunhar sobre seus “extenuantes esforços para levar a paz a Serra Leoa”.

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Formação

Taylor se formou em economia nos Estados Unidos e fez treinamento militar na Líbia antes de liderar a força revolucionária na Libéria em 1989. Um ano mais tarde, o então presidente do país Samuel Doe, cujo regime também foi acusado de frequentes abusos aos direitos humanos, foi torturado até a morte por forças leais a Prince Johnson, um senador na Libéria. “Nós lançamos a revolução para produzir a estabilidade no país”, disse Taylor aos juízes.

Mas a morte de Doe mergulhou a Libéria em lutas internas ainda mais intensas e duraram até pouco tempo antes de Taylor ser eleito presidente em 1997. Ele é acusado de apoiar a RUF em Serra Leoa em sua luta para depor o presidente Joseph Momoh e seus sucessores. Os promotores disseram que Taylor treinou na Líbia com o líder da RUF, Foday Sankoh.

Taylor, porém, disse que nunca conspirou com Sankoh para invadir Serra Leoa, que chamou de “aquele país amigável”. Ele também negou ter ordenado aos rebeldes que cortassem as mãos de seus inimigos, a assinatura da atrocidade do conflito em Serra Leoa. “Está errado. Isso nunca aconteceu na Libéria. Eu nunca aceitaria isso na Libéria e nunca encorajaria isso em Serra Leoa”, afirmou Taylor.