O ex-presidente do Chade, Hissene Habre, acusado de ordenar a morte de milhares de pessoas durante seu mandato será julgado em breve no Senegal por ter cometido crimes de guerra e comandado torturas. Após receber os resultados de uma investigação contra o ditador, a Câmara Extaordinária Africana – tribunal especial criado para julgar o caso – anunciou na sexta-feira que ele logo será levado a júri.
O julgamento do ex-presidente será o primeiro na África baseado na “jurisdição universal”, que os países usam em casos de crimes hediondos cometidos no exterior, explicou a organização de direitos humanos Human Rights Watch em depoimento. A entidade espera que o tribunal tenha início em maio ou junho.
Habre presidiu o Chade entre 1982 e 1990, e então fugiu para o Senegal, após ser derrubado do poder pelo presidente atual do País, Idriss Deby. Durante mais de 20 anos, o ditador viveu uma vida luxuosa no exílio, em Dacar, até que a polícia paramilitar invadiu uma de suas casas em junho de 2013 e levou-o em custódia.
“Após tantos anos, as vítimas de Habre estão agora prestes a verem a justiça sendo feita pelo que passaram”, disse a principal advogada das vítimas, Jacqueline Moudeina. “Levar Hissene
Habre diante de uma corte é uma vitória enorme para a justiça.” A defesa do ex-presidente alega que a acusação tem motivos políticos e enfatiza o fato de o governo de Deby ser um dos principais doadores do júri.
Em maio de 1992, uma comissão da verdade no Chade, criada pelo atual presidente, revelou que o governo de Habre havia sido responsável por cerca de 40 mil mortes. O grupo acusou principalmente a Diretoria de Documentação e Segurança, a força policial do ditador, que “se destacou por sua crueldade e o desprezo pela vida humana”. De acordo com o documento, a instituição empregava métodos de tortura que incluíam açoites, espancamentos, queimaduras e extração de unhas.
Habre recebia um apoio substancial dos Estados Unidos e da França porque era visto como uma defesa contra o ex-ditador da Líbia Muamar Kadafi, segundo o Human Rights Watch. Fonte: Associated Press.