Um tribunal do Senegal condenou o ex-ditador Hissène Habré, do Chade, por tortura, crimes de guerra e crimes contra a humanidade, em um caso considerado um marco. Habré, de 73 anos e aparência frágil, deve agora cumprir prisão perpétua.
Habré orquestrou a morte e a tortura de dezenas de milhares de prisioneiros políticos durante seu regime, entre 1982 e 1990, no empobrecido país desértico, disse o juiz Gberdao Gustave Kam, que comandou o caso. Habré também cometeu estupro, acrescentou o magistrado. “Ele criou e manteve um ambiente de total impunidade”, afirmou o juiz senegalês, antes de ler o veredicto. Enquanto o ex-líder era sentenciado, várias das supostas vítimas começaram a comemorar e dançar no entorno do tribunal. O caso é o primeiro de crimes de guerra concluído envolvendo um líder africano que foi julgado em outro país do continente.
Habré afirmava ser inocente. Os advogados dele, que podem apelar dentro de 15 dias, afirmavam que não havia como comprovar o vínculo entre o ex-ditador e as 40 mil mortes e os 200 mil casos de tortura que ele teria organizado diretamente. Habré foi um aliado dos Estados Unidos durante a Guerra Fria. Forças dos EUA treinaram as tropas do Chade e ajudaram a comprar picapes usadas para derrotar inimigos.
Em 1990, Habré fugiu após um golpe liderado por seu ex-assessor militar Idris Deby. Vinte e seis anos depois, Deby ainda é o presidente do país e um aliado próximo da França. Habré se estabeleceu em Dacar, perto de uma praia, e dois governos senegaleses haviam se recusado a extraditá-lo. A situação mudou em 2012, quando foi eleito o atual presidente de Senegal, Macky Sall. Ex-premiê, Sall jurou levar adiante as acusações contra o ditador. Dias antes de uma visita em 2013 do presidente dos EUA, Barack Obama, o governo senegalês impulsionou o processo. Fonte: Dow Jones Newswires.