A vitória esmagadora de Evo Morales nas eleições de domingo foi além da conquista de mais um mandato. Ao praticamente obter a maioria de dois terços na Assembleia Plurinacional – composta pelo Senado e pela Câmara -, Evo também conseguiu total controle do Executivo e do Legislativo, consolidando seu poder no país.
“A maioria de deputados e senadores que obtivemos me obriga a acelerar esse processo de mudança”, disse o presidente logo após a vitória com 63% dos votos (36 pontos porcentuais a mais que o segundo colocado, o ex-governador de Cochabamba e líder opositor Manfred Reyes Villa). Os dados tiveram como base a chamada “contagem rápida” do Instituto Mori.
Das 166 vagas da Assembleia, 110 ficaram com o Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Evo. O PPB, de Reyes Villa, conquistou 51 cadeiras, enquanto a Unidade Nacional (UN), do empresário Samuel Doria Medina, e a Alianza Social (AS), de Rene Joaquino, ficaram com 3 cada. No Senado, o MAS obteve 25 das 36 cadeiras e o PPB, 11. UN e AS ficaram sem representação.
“É uma acumulação de poder da Bolívia inédita nos últimos 50 anos”, disse o analista político Gonzalo Chávez, da Universidade Católica Boliviana. Para ele, a vitória esmagadora de Evo demonstra que não foram apenas os movimentos sociais que votaram por sua reeleição, mas também a classe média. “O governo vai pensar duas vezes antes de radicalizar, porque sabe que estará decepcionando uma grande parte de seu eleitorado.”
O analista Carlos Cordero, professor de Ciências Políticas da Universidade Mayor San Andrés, tem opinião semelhante. “Sem dúvida esse apoio social se expressou em votos e isso exige que o governo de Evo desenvolva políticas públicas também para a classe média, que costuma ser muito crítica e volátil”, acredita Cordero.”Esse grupo apoiou Evo, mas o apoio não é eterno. Vão surgir grupos fiscalizadores e o presidente terá a responsabilidade de construir um novo Estado, mas tendo em conta a classe média que o apoiou.”