A ‘fracassomania’, convicção de que nenhuma iniciativa própria dará certo, e o pavor de falar em público podem ser muito mais do que simples traços de uma personalidade tímida, indica estudo da psiquiatra e terapeuta comportamental Maria Cecília Freitas Ferrari, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, premiado como o segundo melhor trabalho do 16º Congresso Europeu de Psiquiatria, em Nice, na França. A auto-avaliação negativa é porta de entrada do Transtorno de Ansiedade Social (TAS), neuropatologia que acomete entre 5% e 13% da população mundial, menos de 1%, porém, tem consciência de que se trata de doença.
Se não tratado, o TAS pode evoluir para casos graves de depressão, consumo de álcool e drogas. "Se a pessoa tem algum prejuízo no desempenho social, acadêmico ou profissional por dificuldade de se expor em público, ela pode sofrer de TAS, e isso tem tratamento", diz Maria Cecília. No estudo, Maria Cecília identificou um vínculo entre o TAS e uma ampliação da área da amígdala cerebral, associada às emoções, e diminuição do volume do córtex cingulado anterior, envolvido no planejamento e execução das ações.
Entre 2006 e 2007, foram realizados testes com 67 estudantes da própria USP Ribeirão, com idades entre 18 e 30 anos, divididos em três grupos. Um grupo tinha pessoas diagnosticadas com TAS. O grupo intermediário apresentava transtorno sub-clínico (com sintomas, mas sem prejuízos ao desempenho social). O terceiro não apresentava qualquer traço da doença. Os voluntários foram submetidos a ressonância magnética.