Uma dissertação de mestrado realizada por uma aluna da Universidade Federal Fluminense (UFF) em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) verificou que 25,5% dos animais abatidos em um matadouro da cidade de Palmas, sul do Paraná, estavam infectados pelo parasita Toxoplasma gondii, causador da doença conhecida como toxoplasmose. Foram avaliados cerca de 400 animais provenientes de criadouros de 35 municípios do sudoeste do Estado, os quais direcionam sua produção para o matadouro.

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De acordo com uma das orientadoras do trabalho, o fato somente indica perigo no caso de consumo da carne mal cozida, mas serve de alerta à população paranaense para as diversas proveniências do parasito, erroneamente associado somente a gatos e aves.

O matadouro que abrigou a pesquisa absorve toda a produção da região onde está instalado e possui inspeção federal. No entanto, segundo a pesquisadora Leila Sobreiro, professora adjunta do Departamento de Saúde Coletiva Veterinária e Saúde Pública da Faculdade de Veterinária da UFF, a constatação não induz a um problema do local em si. ?Isso apenas expressa que a criação da região está permitindo que os animais tenham contato com o toxoplasma?, conclui.

O Paraná foi eleito como tema da pesquisa porque ainda não apresentava estudos semelhantes com suínos, mas a situação encontrada aqui não foi muito diferente de outros estados. ?Em São Paulo e no Rio Grande do Sul, por exemplo, encontramos índices ainda maiores (37,8% e 33,7%, respectivamente), mas em termos gerais os números refletem uma realidade nacional?, cita.

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Os relatos de toxoplasma em animais que vão para abate, entretanto, não são novidade. ?O que tem de novo são as formas de diagnóstico, com métodos cada vez mais apurados.? A problemática, explica a professora, tem origem no início da cadeia produtiva. ?Nas granjas, mesmo as grandes, ainda existe a presença do gato para controlar o rato. Se tem ratos próximos à ração, as pessoas colocam o animal para sanar a praga, arriscando que defeque sobre o alimento dos suínos e transmita o parasito. Falta aos produtores conhecer a cadeia de transmissão para evitar o problema?, afirma.

A doença

Do outro lado, quem também deve tomar cuidado é o consumidor. ?As pessoas devem preocupar-se não apenas com o gato como transmissor, mas também com os animais de abate?, alerta. Daí a importância em cozer bem o alimento de origem animal. ?Feito isso, está sanado o problema.? A principal preocupação com a toxoplasmose é com relação a gestantes e imunodeprimidos: nas primeiras porque podem ocorrer danos ao feto e, nos segundos, porque a doença pode se desenvolver mais facilmente, uma vez que a baixa imunidade propicia a manifestação do parasito.

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Quem trabalha em frigoríficos também deve estar atento, uma vez que um descuido qualquer, como levar a mão com resquícios de sangue do animal à boca, é suficiente para a contaminação. Nem sempre a toxoplasmose se manifesta nos hospedeiros, mas, quando constatada, pode resultar em sérios danos neurológicos e oftalmológicos.

Nem todas as granjas fazem exames

Responsável pela área de sanidade dos suídeos (porcos e javalis) da Secretaria Estadual de Agricultura, Aglaci Tomporoski explica que em todas as 55 granjas de reprodução desses animais existentes no Paraná há inspeções de biossegurança. ?Nessas granjas, que são a base para distribuição de suínos no Estado, dificilmente um caso de contaminação seria encontrado, pois há controle de entrada e saída de pessoal, manejo de limpeza e exames específicos são feitos periodicamente.?

No entanto, este último item não é aplicado nas granjas comerciais. ?Os matadouros podem até verificar a origem, mas não há exigência de exames para a toxoplasmose. Portanto, nesse tipo de criadouro, que envia animais para abate, a única medida com que se pode contar é a prevenção, implantando controle de felinos e roedores?, explica.

Preocupado com os resultados da pesquisa, o presidente da Associação Paranaense de Suinocultores, Irineu Wessler, garante que a maior parte das granjas do Estado toma cuidados, como isolamento das criações e produção inspecionada, dentro das normas sanitárias. ?Todas as medidas de segurança são adotadas, mas exames nesse sentido realmente não são feitos?, confirma. A dificuldade em implantar tal medida estaria no quesito dinheiro, ainda mais para este setor, que amarga dificuldades por conta da desvalorização do preço da carne de porco no mercado. ?Mesmo assim, vamos nos inteirar mais sobre o assunto e até fazer novos testes para confrontar com estes. Também vamos conscientizar os produtores e questionar o problema para que possam tomar os cuidados necessários?.