Paranoico em relação às traições e centralizador, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, mantém o poder há 14 anos cuidando para que nenhum outro líder lhe faça sombra no comando de seu projeto bolivariano. Em meio aos expurgos e às condenações veladas ao ostracismo, o chavismo, que agrega diferentes grupos de militantes, busca uma figura que possa substituir o carismático líder enfermo.

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Antes de partir para Cuba há mais de um mês, onde se submeteu à quarta cirurgia para combater um câncer na região pélvica, Chávez nomeou seu chanceler e vice-presidente, Nicolás Maduro, como herdeiro político. Mas membros da oposição asseguram que a escolha aprofundou divisões entre grupos antagônicos do movimento bolivariano – descontentando principalmente o grupo militar, controlado pelo presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, que também esperava esse papel.

“As divergências no interior do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) explicam a ênfase do discurso de Chávez, em 8 de dezembro, pedindo a seus partidário ‘unidade, unidade e unidade'”, disse ao Estado Anibal Rodríguez, analista da Universidade Central.

“Até agora, esse pedido tem sido atendido, com todos os chavistas apresentando um discurso uniforme, seja em relação à saúde de Chávez, seja em relação à estratégia adotada na semana passada para o contorcionismo legal que permitiu a continuidade do governo, com todos os chavistas usando até as mesmas palavras em declarações públicas.”

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Ao longo dos anos, porém, Chávez mesmo se encarregou de dividir facções internas para evitar o fortalecimento de seus líderes. Quando se tornavam muito populares ou muito influentes internamente, acabavam amargando o ostracismo.

“O processo de expurgo de figuras da primeira geração do chavismo começou com a saída de José Vicente Rangel (então vice-presidente desde 2002), em 2007, quando Chávez decidiu aprofundar o caráter socialista da revolução bolivariana”, disse Rodríguez.

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“Ao contrário da velha-guarda, os líderes da chamada nova geração, como o ex-vice-presidente e ex-dirigente estudantil, Elías Jaua, eram muito menos resistentes às decisões do presidente e sempre se restringiram a cumprir as ordens. A mensagem era a de que Chávez nunca abriu mão de talhar a revolução à sua imagem e semelhança.”

“A autonomia nos círculos chavistas é limitada e a hierarquia, militar. Não por acaso, militares ocupam os postos-chave do governo”, afirma, por seu lado, a acadêmica María Abreu, da Universidade Andrés Bello. E, dos quartéis, Chávez exige lealdade absoluta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.