Candidato favorito à presidência da Argentina, Alberto Fernández afirmou que o novo plano do governo para reestruturar sua dívida de curto prazo mostra que o país está virtualmente insolvente, conforme a crise de confiança prejudica a demanda do setor privado por dívida do governo. “Agora ninguém quer a dívida da Argentina, ou ninguém que pode pagar por ela”, afirmou Fernández, candidato da coalizão peronista visto como grande favorito a vencer no primeiro turno presidencial em outubro. “A Argentina está em default virtual, oculto.”
Nesta semana, o governo do presidente Mauricio Macri estendeu unilateralmente o vencimento de todos os bônus de curto prazo e afirmou que deseja reestruturar sua dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI), após o Tesouro do país não conseguir rolar suas obrigações com o setor privado.
Os mercados reagiram de modo negativo, com a S&P rebaixando na quinta-feira o rating da Argentina para default seletivo. O FMI, que fechou o pacote de US$ 57 bilhões para a Argentina em 2018, afirmou na quarta-feira que avaliava as medidas.
Em sua primeira entrevista a um meio da imprensa estrangeira antes da eleição, Fernández afirmou que não estava disposto a apoiar as medidas de emergência do governo para conter o aumento da volatilidade. “O mercado agora sabe para onde eles estão indo”, afirmou na sede de sua campanha, em referência aos esforços do governo para reestruturar a dívida de curto prazo.
Aos 60 anos, Fernández disse que, se eleito, buscará equilibrar o orçamento mais adiante. Mas primeiro ele planeja um ambicioso programa para restaurar o poder de compra, com aumento nos salários e nas pensões do governo, enquanto contém as pressões inflacionárias com um pacto abrangente com empregadores. “Para reverter esse ciclo você precisa lançar um plano para impulsionar o consumo e eu não pedirei permissão ao FMI para fazer isso.”
Fernández afirmou que o pacote do FMI é em parte culpado pela turbulência financeira argentina. Em vez de ser usado para substituir dívida mais cara, Fernández disse, os dólares do FMI evaporaram nos fluxos de capital, conforme o governo queima reservas em moeda estrangeira para conter a rápida depreciação do peso.
“A crise atual é um caso de déjà vu”, afirmou ele ao recordar o colapso financeiro de 2001, que levou ao default em US$ 100 bilhões em dívida do governo, um recorde na ocasião. Os desacordos dele com as condições do FMI também são similares, acrescentou. “O que eu quero que eles entendam no FMI é que eles são culpados dessa situação”, afirma. “Foi um ato de cumplicidade com o governo Macri. Foi a campanha de reeleição mais cara da humanidade e eles deram dinheiro a um gastador compulsivo.”
O FMI não quis comentar o assunto. Fernández deixou claro que não apoia as medidas de austeridade de Macri para equilibrar o orçamento do governo, que estão entre as condições fechadas com o Fundo. “O governo do sr. Macri causou estrago similar ao que a Argentina sofreu em 2001: um default da dívida, sem reservas em moeda estrangeira, uma forte desvalorização e aumento da pobreza”, complementou.
Fernández é visto como mais pragmático do que sua candidata a vice, a ex-presidente Cristina Kirchner, que nacionalizou companhias estrangeiras e impôs controles de capital quando as condições econômicas pioraram mais para o fim de seu mandato. Fernández disse ser contrário aos controles de capital e às expropriações. Ele disse que, se vencer, pretende buscar atrair investimento estrangeiro, concentrando-se no esforço de desenvolver Vaca Muerta, um dos maiores depósitos globais de xisto e gás. “Para nós, é surpreendente que o mundo acredite que Macri seja a solução”, afirmou o candidato oposicionista. Fonte: Dow Jones Newswires.