É surpreendente a forma como alguns animais, com o objetivo de se proteger das adversidades do meio em que vivem, constroem suas habitações. Muitas vezes, devido à admirável habilidade que demonstram, chegam a ser comparados com arquitetos, engenheiros ou mesmo artesãos. Entre os insetos, geralmente considerados bastante trabalhadores, existem grandes exemplos, como as abelhas, as vespas e as formigas. Todos estes são considerados insetos sociais.
Abelhas
Entre as abelhas, as que produzem mel (Apis meliffera) são as que possuem construções mais interessantes. A professora de Ciências Biológicas do Departamento de Zoologia da UFPR, Maria Cristina de Almeida, que tem formação em entomologia (estudo dos insetos), revela que elas foram trazidas ao continente americano pelos primeiros colonizadores europeus.
Na natureza, costumam fazer suas colônias em ocos de árvores e brechas de paredões de pedra. Nas cidades, podem construí-las em caixas especiais mantidas por apicultores (pessoas que criam abelhas com o intuito de produzir mel). ?As colônias são construídas com uma cera produzida por uma glândula presente na região de baixo das abelhas operárias (fêmeas que, ao contrário das abelhas rainhas, não se reproduzem)?, explica.
Para realizar a modelagem das habitações, elas utilizam as mandíbulas e as pernas. As colônias vão sempre aumentando com o tempo, podendo levar meses para serem construídas. São compostas basicamente por uma seqüência de paredes e diversas células hexagonais, que compõem os favos. Nas células, são guardadas os ovos, que vão dar origem às larvas, o pólen coletado das flores e o mel.
?As células hexagonais são todas absolutamente iguais, estando umas coladas nas outras. Elas medem entre 4 e 5,5 milímetros de diâmetro e doze milímetros de profundidade. A forma de um hexágono permite melhor aproveitamento de espaço?. As colônias também possuem um envoltório – responsável pela manutenção das condições de temperatura e umidade – e só são abandonadas por questões ambientais, escassez de alimento (pólen e néctar), ataques ou morte da rainha (quando não há como substituí-la por outra).
Uma nova colônia nasce quando uma abelha rainha reúne um grupo de operárias, que carregam um pouco de cera, pólen e néctar da colônia-mãe e vão em busca de um novo lugar na natureza para dar início à construção.
Formigas
As formigas conhecidas como saúvas, que pertencem ao gênero Atta, surpreendem pesquisadores e estudiosos com suas gigantescas escavações. De acordo com a professora, ao contrário de outras formigas, elas constroem suas moradas dentro do solo. Estas são consideradas verdadeiros labirintos, estando repletas de túneis e câmaras dos mais variados tamanhos. ?As câmaras servem para a produção de fungo e também para que as rainhas (como são chamadas as reprodutoras, assim como no caso das abelhas) coloquem os ovos?.
A professora esclarece que, ao contrário do que muitas pessoas acreditam, as formigas não se alimentam de plantas. Elas levam as plantas para os ninhos, sendo que as mesmas servem de substrato onde semeiam esporos de fungos que vão crescer e servir para alimentá-las. O tamanho dos ninhos depende do número de habitantes, mas um único ninho pode ser imenso em extensão, sendo que já foram encontrados alguns com mais de dois metros. São compostos basicamente de terra.
Vespas
Popularmente conhecidas como marimbondos, as vespas constroem ninhos bastante resistentes à chuva e vento, que podem durar um longo período de tempo. Geralmente são instalados em ramos de plantas, mas existem grupos que vivem próximos ao homem e gostam de iniciá-los entre o forro e o teto das casas, muitas vezes gerando uma série de inconvenientes às pessoas que nelas habitam. Assim como as abelhas e as formigas, estes insetos também possuem uma rainha que produz os ovos. Porém, suas construções possuem características específicas.
?Para construir suas estruturas, as vespas utilizam-se de suas mandíbulas para raspar, cortar e mastigar os tecidos das folhas. Então, os misturam com a própria saliva, transformando-os em uma pasta, e dão início a modelagem. A pasta seca e endurece, parecendo papel?, conta. ?O tamanho das construções também varia conforme o número de indivíduos. Elas são dotadas de sistema de ventilação (que podem ser comparados a ar condicionado) e células de formatos diversos, dependendo da espécie. Podem ou não ter envoltório?.
Ao contrário das abelhas, que têm o mel e a cera (usada para fazer vela, cola, solda e medicamentos) aproveitados pelo homem, as estruturas construídas pelas vespas geralmente não são utilizadas pelos humanos. ?As vespas, como outros insetos, não recebem aprendizado para construir suas habitações. As habilidades que elas possuem já nascem com elas, impressas no DNA?, finaliza Maria Cristina.
Museu abriga ninhos feitos com arame
O Museu de História Natural de Curitiba, localizado no bairro Capão da Imbuia, possui em seu acervo dois ninhos de pássaros que chamam a atenção dos visitantes devido à estranheza do material com que foram construídos: arame. O primeiro, que mede cerca de 30 centímetros, foi construído por um pássaro pequeno chamado curutié, que vive em banhados e áreas alteradas, podendo ser visto em diversas regiões do Brasil.
Já o segundo mede cerca de 15 centímetros e foi construído pelo pássaro joão-teneném, que pertence à mesma família do joão-de-barro, tem cor marrom e cauda comprida, também podendo ser observado em vários estados brasileiros.
?O interessante é que geralmente os dois pássaros utilizam gravetos para construir seus ninhos. Os animais devem ter encontrado os arames jogados em algum lugar e os aproveitado?, acredita Raphael Santos. ?O museu mantém as construções em sua coleção científica, com o objetivo de estudo?. (CV)
Construções dos pássaros chamam a atenção
Entre os pássaros, também existem espécies consideradas grandes construtoras. Tanto nas cidades quanto nos meios rurais, ninhos confeccionados por diversas aves surpreendem não apenas ornitólogos (estudiosos de pássaros), mas também pessoas comuns, que se impressionam ao admirá-los nos galhos de árvores, postes e telhados.
Foto: Chuniti Kawamura/O Estado |
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Usando terra úmida, o joão-de-barro faz seu ninho nos troncos de árvores, postes e murais. |
João-de-barro
Ninhos bastante interessantes são construídos por aves da família Furnariidae, da qual pertence o joão-de-barro da espécie Furnarius rufus, que ocorre em grande parte do Brasil, podendo ser visto inclusive no Paraná. Estes pássaros costumam confeccionar suas habitações com cerca de trinta centímetros de diâmetros e paredes com espessura de até cinco centímetros.
?Para fazer seu ninho, o joão-de-barro necessita de terra úmida. Ele a coleta com o bico e a acumula nos troncos de árvores, postes e murais. O barro vai secando e dando forma à habitação do pássaro, que é arredondada e tem uma porta de entrada. Algumas vezes, são construídas colônias, em que uma casinha é feita sobre a outra?, comenta o biólogo Raphael Santos, que é especialista em ornitologia.
Tanto a fêmea (conhecida como ?joaninha-de-barro? ou ?maria-de-barro?) quanto o macho trabalham na construção, se revezando no serviço. Por dentro, o ninho é forrado com vegetação seca – onde são colocados entre três e quatro ovos – e mantém temperatura mais elevada do que a do ambiente externo. A construção é considerada bastante resistente à chuva e vento, tendo geralmente a porta voltada para o lado que menos venta, o que varia de região para região.
Quando o ninho fica pronto, a fêmea fica no interior chocando os ovos e o macho sai para procurar comida. Existe a crença de que o macho, quando encontra sua fêmea com outro parceiro, fecha a porta da habitação e a tranca dentro do ninho, deixando-a morrer. Porém, segundo Raphael, ainda não existe comprovação científica para o fato.
Guaxo e xexeu
Outros pássaros bastante habilidosos, muitas vezes comparados a costureiros, são o guaxo e o Xexeu, pertencentes à família Ictecteridae. O primeiro tem penas pretas e vermelhas, bico em formato de cone e grande ocorrência no Brasil. No Paraná, pode ser visto do litoral até o extremo oeste. Já o segundo é preto e amarelo, sendo bastante visto na região do Pantanal.
Ambos, com tamanho pouco superior a de um sabiá, constroem ninhos que mais parecem cestinhas penduradas nos galhos das árvores. Como são aves coloniais (que se associam em grupos), geralmente é possível ver uma única árvore repleta de ninhos, sendo que cada um serve de abrigo a um único casal.
Também construídas tanto pelos machos quanto pelas fêmeas, as cestas são feitas de palha fina, barba-de-bode e mesmo fios de cabelo. Possuem uma porta na parte superior e um local para depósito dos ovos na parte inferior, na área interna. ?O que mais chama a atenção nestes ninhos, além do fato de eles ficarem pendurados, é que a vegetação utilizada para construí-los é muito bem trançada, às vezes dando a impressão de ser costurada?, afirma o biólogo. (CV)
