Gritos e muito choro. A cena se repete todos os anos em shoppings e lojas de brinquedos principalmente nos finais de semana. É nesta época que os pidões aparecem mais, deixando os pais sem saber como agir. Victor, de 8 anos, faz o estilo pidão estratégico. "Ele não é daqueles que fica chorando e se atira no chão, mas está sempre pedindo e acaba nos vencendo pelo cansaço" afirma a gerente-comercial Rosângela de Souza Lima Duarte, de 41 anos, mãe do garoto. Ela conta que Victor costuma fazer uma lista antecipada de pedidos: "Quando não consegue nos convencer, ele parte para os tios."
De acordo com Maria Irene Maluf, especialista em psicopedagogia e presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia, o comportamento das crianças "pidonas" é estimulado pela imensa publicidade destinada ao público infantil Em contrapartida, pais que satisfazem todos os desejos dos filhos podem estar tentando compensar uma ausência no dia-a-dia dos menores ou mesmo a falta de carinho, enfatiza a pedagoga.
Para Maria Irene, a vaidade dos pais também permeia esse tipo de relação. Ao dar presentes caros para os filhos, ela considera que é uma forma de os adultos brilharem. "As crianças percebem a atitude e tentam tirar vantagem desse tipo de relação " Maria Irene também aponta a disputa de pais separados ou de familiares para dar o presente mais caro para as crianças como outro problema para os pidões. "A auto-estima dos pequenos vai para baixo e objetos acabam valendo pouco na mão deles", destaca
Cláudia Petuca, pedagoga da escola Happy Kids, de Porto Alegre, defende que os limites da criança sejam trabalhados. Como principais características dos pidões, verificadas durante atividades em sala de aula, ela cita intolerância, falta de educação, grande carga de expectativa e insegurança. Para tentar mudar esse tipo de comportamento, Cláudia procura inserir na rotina de seus alunos atividades onde há compartilhamento de brinquedos e exercícios em que se aprende a esperar a vez, a se organizar e a respeitar os objetos comuns a todos.
Na avaliação de Maria Irene, a criança que, no lugar de atenção, ganha objetos acaba perdendo o interesse pelos mesmos. "Quem recebe esse tipo de educação tem grandes chances de se tornar um adolescente inseguro, egoísta e despreparado para o convívio familiar." A pedagoga defende a negociação com a criança, para que ela entenda o valor das coisas.
Futuro problemático
Conforme Cláudia, muitos pais, quando são alertados sobre o comportamento dos filhos pidões, ficam perdidos e em dúvida sobre como agir. Muitos até aceitam, mas acabam não aplicando a sugestão dos educadores na rotina da criança. "Os pidões podem acabar se tornando adultos problemáticos, pois não passaram por frustrações na infância, normais ao longo da vida de qualquer pessoa: uma fase mal trabalhada leva a outra com problemas maiores", salienta.
O psiquiatra Getúlio Marca Filho afirma que crianças cujos pais não impuseram limites têm grandes chances de se tornar adultos viciados em drogas e com desvios de personalidade "O adolescente age como se pudesse fazer tudo: o vazio deixado pela educação dos pais é preenchido com substâncias externas", constata. Segundo o psiquiatra, o jovem que teve todos os seus desejos atendidos na infância "busca satisfação imediata na hora que quer, independente das conseqüências". Dialogar, respeitar as combinações estabelecidas e assumir as decisões tomadas, suportando as conseqüências, são as dicas dos especialistas frente aos problemas dos pidões.