Escândalo na Argentina adia aprovação de Orçamento

Após 14 horas de discussões, a Câmara de Deputados da Argentina não aprovou hoje o projeto de Orçamento para 2011. A discussão ocorre em meio ao escândalo em que parlamentares da oposição acusam o governo de tentar pressioná-los e suborná-los para obter apoio. Os deputados decidiram, já na madrugada, enviar o projeto de lei do Executivo a uma comissão legislativa para ser revisado, antes de debatê-lo pela segunda vez na Câmara, o que deverá ocorrer na próxima semana.

A sessão refletiu as profundas diferenças entre o peronismo (justicialismo) oficial e a oposição sobre o plano econômico da presidente Cristina Kirchner para o próximo ano. A oposição considera o Orçamento de 2011 uma “mentira” por subestimar alguns indicadores, como o da inflação. Além disso, ainda afirma que o Orçamento permitiria ao governo o uso de verbas de forma discricionária.

O projeto de lei do Orçamento argentino prevê um crescimento de 4,3% no Produto Interno Bruto (PIB) e uma inflação de 8,9%, enquanto opositores e analistas econômicos acreditam que os preços subirão pelo menos 20%. O projeto propõe o pagamento de dívidas de mais de US$ 7,5 bilhões com dinheiro das reservas do Banco Central, uma proposta muito criticada pela oposição.

Denúncias e pressão

Duas deputadas da oposição denunciaram que receberam telefonemas, nos quais foram pressionadas para apoiar o governo. A deputada Cynthia Hotton afirma que recebeu uma proposta de suborno de uma pessoa conhecida, que lhe disse no telefonema: “Todos os seus projetos e nomeações não são nada, em comparação ao que podemos te oferecer nesta noite”.

Elisa Carrió, dirigente da Coalizão Cívica, denunciou que alguns deputados da oposição se ausentaram de maneira “suspeita” do debate e afirmou que alguns deles “negociam fora desta Câmara com o senhor chefe de gabinete, Aníbal Fernández”.

O líder dos deputados governistas, Agustín Rossi, rechaçou as acusações e assinalou que os parlamentares da oposição sabiam que perderiam no voto e por isso decidiram contra-atacar fazendo denúncias. “Eles montaram uma cena e uma operação fenomenal para evitar que o orçamento fosse aprovado”, afirmou Rossi.

Aníbal Fernández, por sua vez, pediu a Carrió que mostre as mensagens de texto que, segundo ela, o chefe de gabinete enviou a vários deputados para pressioná-los.

Os governistas impulsionam um projeto ligado ao marco da “política econômica de sucesso” aplicada há sete anos pelos governos de Néstor Kirchner (2003-2007) e da sua esposa e sucessora, Cristina Fernández de Kirchner. Néstor morreu de ataque cardíaco no mês passado. Se o projeto de orçamento para 2011 for travado, o governo poderá optar por estender o de 2010. As informações são da Associated Press.

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