O "Valijagate" (Maleta-gate) tornou-se o principal pesadelo da nova presidente argentina, Cristina Kirchner, que completa hoje (segunda-feira) sua primeira semana no poder. Além disso, o escândalo, ressurgido com força na quarta-feira passada, também atinge o governo do presidente venezuelano Hugo Chávez, que estava tentando recuperar a auto-estima e prestígio após a derrota do líder boliviariano no referendo realizado há duas semanas sobre a reforma da Constituição.
O caso da maleta começou em agosto passado, quando o empresário venezuelano Guido Antonini Wilson tentou desembarcar em Buenos Aires – em um vôo proveniente de Caracas – com US$ 790 mil de forma clandestina. A maleta com o dinheiro contrabandeado foi descoberto pela polícia alfandegária argentina e confiscado. Antonini Wilson viajou para Miami, onde residia, e manteve-se longe do assédio da imprensa. A Justiça argentina pediu sua extradição, mas, a Justiça americana não atendeu a solicitação.
Na época, suspeitava-se que o dinheiro da maleta tinha como destino a campanha eleitoral de deputados e prefeitos chavistas na Argentina (Chávez conta com pelo menos 60 mil ativos militantes no país). Outra especulação indicava que o dinheiro seria utilizado para subornos de altos funcionários argentinos para facilitar negócios entre a estatal petrolífera venezuelana PDVSA e empresas argentinas.
Mas, na semana passada, o FBI e a Justiça Federal de Miami anunciaram que um grupo de três venezuelanos e um uruguaio detidos nos EUA haviam sido gravados secretamente em uma conversa com Antonini Wilson, na qual afirmavam que o dinheiro estava destinado à campanha presidencial de Cristina Kirchner, que em outubro foi eleita com 45,2% dos votos.
O escândalo enfureceu a nova presidente, que não hesitou em acusar os EUA (embora ela não tenha se referido explicitamente a esse país, dois de seus ministros o fizeram) de realizar contra a Argentina uma operação que definiu como "um lixão". Autoridades diplomáticas americanas imediatamente explicaram que o governo dos EUA nada tinha a ver com o caso, já que havia se tratado de uma ação da Justiça americana, que é um poder independente da Casa Branca.
O escândalo também ameaça provocar um retrocesso na política de reaproximação aos EUA que Cristina estava realizando nos últimos meses.
Enquanto isso, a oposição argentina ameaça convocar uma CPI para investigar se a nova presidente fez campanha com dinheiro de Chávez. A lei eleitoral argentina proíbe que um candidato faça campanha com dinheiro de outros governos ou empresas do exterior.
O escândalo da maleta também provoca irritação em Caracas. O eventual financiamento de Chávez para Cristina fornece mais argumentos para a oposição ao presidente venezuelano, que há tempos denuncia que o líder bolivariano financia as campanhas de vários políticos na região.