Moradoras de um acampamento patrocinado pela China diante do Palácio Nacional, no empobrecido e arruinado centro de Porto Príncipe, Ikila Lefeuve e suas amigas já decoraram as medidas para não serem infectadas pela cólera – a mais nova tragédia do Haiti. Também conhecem os nomes de alguns dos principais candidatos para a disputa presidencial do domingo, que decidirá o sucessor de René Préval.
O problema é que, apesar das informações, elas não se preocupam com a prevenção da doença, que já deixou mais de 1.500 haitianos mortos e 60 mil infectados, e também não se interessam sobre as pessoas que devem governá-las do palácio semidestruído do outro lado da rua.
Elas cozinham ao lado da sarjeta. Bebem água sem filtrar ou ferver. Para se lavar e limpar os filhos, usam sabonete. Mas a água utilizada sai de um balde com limões e outras cascas difíceis de identificar. As crianças andam descalças. O banheiro químico, bancado por entidades estrangeiras, fica a cerca de 400 metros de distância. São sujos e é preciso muita coragem para entrar.
Ikila e suas amigas optam pela praticidade. Fazem suas necessidades em uma clareira entre seus barracos. Depois, cobrem com terra ou recolhem os dejetos e jogam na rua, ali na frente, diante do palácio. Segundo elas, nos dias mais quentes, dormem na clareira do “banheiro” por ser mais ventilado. A única coisa que fazem questão de manter é a vaidade. Pediram para se arrumar e para organizar seus barracos antes de tirar a foto.
No Haiti, por maior que seja a miséria, os homens não andam sem camisa. Os estudantes sempre vestem uniformes elegantes para a ir às escolas. Meninas vestem minissaias; meninos, calça cinza e camisa xadrez. Parecem alunos de colégios britânicos ou liceus franceses. Em alguns momentos, a preocupação com a imagem parece ser maior do que o medo da cólera. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.