Moradores do nordeste da Austrália retornaram hoje para suas casas e as encontraram cheias de lama e destroços, enquanto demonstravam apreensão com a expectativa de mais chuvas. O pior das enchentes, que cobriram uma área do tamanho da França e da Alemanha com uma escura camada de água por mais de uma semana, parece ter passado, mas chuvas torrenciais ainda representam perigo em cidades parcialmente submersas do Estado de Queensland, e o progresso na avaliação dos danos e das reconstruções ainda é lento. Hoje a polícia proibiu o tráfego de barcos no trecho do rio que corta a cidade de Rockhampton, cujas águas não devem voltar ao volume normal nos próximos dez dias.
A abrangência dos danos ainda não é conhecida e a reconstrução completa de toda a infraestrutura afetada ou destruída pode levar anos, afirmou Mick Slater, general do Exército que lidera os trabalhos de recuperação. “Ainda não sabemos como estão as coisas debaixo d’água”, disse ele em Rockhampton, onde as pessoas passaram dias com a água na altura da cintura. “As principais estradas, linhas de trem e pontes foram atingidas, mas não sabemos a gravidade.”
As piores enchentes da Austrália em cerca de 50 anos foram causadas por chuvas tropicais que começaram pouco antes do Natal e atingiram o país durante dias. Cerca de 1.200 casas em 40 comunidades foram inundadas e outras 11 mil sofreram danos por causa das águas. Quatro mil pessoas foram evacuadas e a polícia registrou dez mortes em rios que transbordaram e enchentes em Queensland desde o fim de novembro.
As águas fecharam cerca de 40 minas de carvão do Estado, elevando os preços do produto no mercado internacional, além de afetar as plantações de trigo, manga, cana-de-açúcar e outros cultivos. A primeira-ministra do Estado, Anna Bligh, disse que os valores para a reconstrução das casas, negócios e infraestrutura, além das perdas econômicas, podem chegar a US$ 5 bilhões.
Fortes chuvas atingiram hoje a região, e a meteorologia prevê que elas podem durar todo o fim de semana. Essas chuvas não devem aumentar as enchentes, mas podem adiar a recuperação e prolongar a crise. Cerca de 150 pessoas de Condamine voltaram para casa ontem em um comboio pela primeira vez desde que helicópteros militares ajudaram a evacuar a área em 30 de dezembro, antes que o transbordamento do rio inundasse a cidade.
“A devastação que vimos ao voltar é incrível”, disse Shane Hickey, proprietário de um pub. “Tudo se foi. A água levou tudo”, afirmou. “A grama virou lama, todas as plantas foram retiradas do solo assim como as árvores que estão cobertas de lodo e lama.” A cidade está sem água potável e o prefeito Ray Brown disse que eletricistas, encanadores, banheiros portáteis, água e comida serão enviados para o local. Mais ao sul, a população de St. George assistia às águas ultrapassarem, em uma hora, as barricadas de sacos de areia que eles montaram às pressas ao redor de suas casas.
Em Rockhampton, a maior comunidade atingida, as águas atingiram o nível mais alto dois dias atrás, mas ficaram estáveis hoje após terem inundado grande parte da cidade de 75 mil pessoas. Pequenos barcos a motor substituíram os carros como o principal meio de transporte nos subúrbios. A polícia declarou uma parte do rio Fitzroy como zona proibida para o tráfego de barcos porque as linhas de transmissão de energia estão muito próximas das águas. “Viajar pelas águas neste local é extremamente perigoso em razão da altura das linhas de energia”, disse o inspetor Peter Flanders. As informações são da Associated Press.