Khatera tinha acabado de chegar em casa, contente com seu novo emprego em um salão de beleza, quando recebeu a notícia. “Você vai se casar com seu primo de 65 anos”, disse sua madrasta. A menina afegã tinha 13 anos na época. Ela tinha perdido o pai e a mãe, e a madrasta precisava de dinheiro – o primo pagaria pela “noiva”.
Durante três anos, Khatera foi espancada pelo marido, que tem problemas mentais e paralisia em uma das pernas, e pelo irmão dele. Cerca de 70% das mulheres afegãs são vítimas de violência doméstica, segundo dados do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para Mulheres (Unifem).
Até pouco tempo atrás, mulheres como Khatera tinham poucas esperanças de escapar dessa vida de abusos. Muitas cometiam suicídio, ateando fogo a si mesmas. Existe até um hospital na cidade de Herat, no oeste do Afeganistão, especializado em queimaduras de suicidas. Outras mergulhavam nas drogas como o ópio, amplamente disponível no país.
Mas, de três anos para cá, foram abertos pelo menos cinco abrigos para mulheres. Esses locais estão ajudando as vítimas a conseguir o divórcio. Antes, quando as mulheres fugiam de casa por causa de violência e procuravam a polícia, frequentemente eram mandadas de volta ou ficavam presas. Agora, elas são encaminhadas para um dos abrigos.
Nem sempre é preciso chegar ao extremo de uma separação. “Muitas vezes o aconselhamento de casais funciona, tentamos preservar a família”, diz Huma Safi, coordenadora de programas do Mulheres pelas Mulheres Afegãs (WAF, na sigla em inglês), que foi aberto em 2007 e já cuidou de 800 casos de vítimas de violência doméstica.
O WAF fornece advogados para que as afegãs possam pedir o divórcio, já que a maioria é analfabeta e não tem recursos. Quando as mulheres estão sob risco de vida, elas vão para o abrigo, que fica num bairro residencial de Cabul.