Seis anos após ter dito com convicção à Organização das Nações Unidas (ONU) que ela se arriscava à irrelevância por não apoiar a guerra contra o Iraque, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, saudou nesta terça-feira (23) o “potencial extraordinário” da organização. Mas Bush, que deixará o cargo em quatro meses, também usou seu discurso de despedida na Assembléia Geral da ONU para alertar os delegados sobre a “ineficiência e corrupção”, a “burocracia crescente e a hipocrisia sobre os direitos humanos, que cortam a eficiência da ONU”.
“A ONU é uma organização com potencial extraordinário. À medida que a ONU reconstruir seu quartel-general, ela também precisa abrir a porta a uma nova era de transparência, prestação de contas e seriedade de objetivos”, disse Bush, defendendo a reforma da ONU. “Com determinação e objetivos claros, a ONU pode ser uma poderosa força do bem enquanto avançamos no século XXI. Ela pode reafirmar a grande promessa feita na sua fundação”, disse, em discurso de 22 minutos.
Bush, retratado por seus críticos como um caubói selvagem com pequeno uso da diplomacia multilateral, ressaltou que a ONU “precisa permanecer unida” contra pragas como o terrorismo e a pobreza, além de apoiar a democracia e o desenvolvimento. “A ONU e outras organizações multilaterais são necessárias mais do que nunca. Para que tenham sucesso, nós precisamos ser resolutos e efetivos”, afirmou.
O presidente norte-americano alertou para “apenas a passagem de resoluções contra ataques terroristas, após eles ocorrerem”. Ele pediu por mais ação da ONU para combater o terrorismo em primeiro lugar, e instou contra as “todas as formas de ameaças aos governos, que são igualmente intoleráveis”. Ele não mencionou a mudança climática, uma questão considerada central pela administração do atual secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Último discurso
O último discurso de Bush na ONU – que foi um alvo freqüente do desdém do presidente norte-americano e das suas críticas, principalmente por causa da violência em Darfur – levou a uma polida resposta de uma audiência muito acostumada a discordar dele. Em setembro de 2002, Bush alertou os líderes mundiais reunidos no plenário da ONU que ele consideraria a organização “irrelevante” em assuntos mundiais se ela não apoiasse a guerra contra o Iraque.
Mas o discurso de hoje foi notável pela quase ausência de questões como a violência no Darfur e as críticas ao Conselho de Direitos Humanos da ONU – ambos a fonte de uma violenta retórica de Bush no passado. “Precisa ocorrer uma revisão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que com freqüência tem protegido violadores dos direitos humanos”, limitou-se a dizer. Em relação ao Sudão, ele disse que o Conselho de Segurança e a ONU inteira precisam garantir que o governo sudanês acabe com a violência em Darfur.
Bush também disse que a comunidade internacional precisa permanecer unida contra as ambições nucleares da Coréia do Norte e do Irã. Ele também afirmou que a Rússia violou a carta da ONU ao invadir a Geórgia, esquecendo-se de mencionar que a Geórgia atacou primeiro. Bush disse que, apesar de desacordos no passado entre os EUA e a ONU, quando Washington invadiu o Iraque, a organização precisa ficar unida para defender a democracia.