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Em alta, verdes escolhem ‘ecologista realista’ para prefeitura de Paris

O movimento verde francês (EELV, na sigla em francês) aproveitou a onda do surpreendente desempenho na eleição do Parlamento Europeu do dia 26 para lançar no fim de semana um candidato às eleições municipais de março de 2020.

O partido escolheu no sábado à noite o líder dos verdes no Conselho de Paris, David Belliard, como candidato à prefeitura. Belliard encarna o “ecologista realista” e tem um bom diálogo com a atual prefeita, Anne Hidalgo, do Partido Socialista (PS), candidata a reeleição. O apelido foi dado justamente pelo fato de ele dialogar com diferentes grupos.

Belliard é vereador pelo 11º distrito de Paris e jornalista de formação. Ele tem 41 anos e ganhou a primária no sábado com 252 votos contra 204 do rival, Julien Bayou. Ao criticar algumas posições da prefeita, ele diz que quer uma cidade “mais pacífica, menos consumidora de energia”, com a proposta ambiental como carro-chefe.

Na França, a eleição para a Eurocâmara teve participação massiva (50,1%), o declínio da direita tradicional, que pela primeira vez fez menos de 10% em uma eleição, e a boa onda do partido ecológico, que se tornou a terceira força política da França e a primeira da esquerda, com 13,1% dos votos, contra 8,95% em 2014.

Com quase 20% dos votos na capital, liderou em 4 dos 20 distritos de Paris – notadamente aqueles que estão a Leste da capital francesa.

Paris é o bastião mais visado pelos ecologistas. Na eleição para o Parlamento Europeu deste ano, os distritos que eram redutos de direita na capital mudaram seu voto para apoiar a lista do partido do presidente Emmanuel Macron e aqueles que tradicionalmente votavam à esquerda preferiram os verdes, notadamente nos 10º, 18º, 19º e 20º distritos, que deram a liderança aos ecologistas.

Daniel Boy, diretor de pesquisa emérito do Centro de Pesquisas Políticas da Sciences Po, um dos mais respeitados centros de estudos sociais e políticos do mundo, explica que não é a primeira vez que os verdes alcançam tamanho êxito na França: “Ele já foram até mais longe em 2009, com 16,28%, mas o que surpreendeu nesta eleição foi que nas vésperas os institutos de pesquisa não davam mais que 9% para os ecologistas”.

Segundo o instituto Ipsos, o perfil dos eleitores que optaram pela Europa Ecologia é de jovens entre 18 e 34 anos. “O sucesso da lista verde, a primeira força à esquerda, vem principalmente de sua pontuação (27%) nos menores de 35 anos, onde chegou em primeiro”, detalha o estudo “Europeias 2019 – Sociologia do eleitorado”, de Brice Teinturier.

Para Boy, é inegável o peso do voto jovem, mas, segundo ele, há um fator ainda mais determinante: o diploma. “Quanto mais escolarizados, maior é a tendência de se preocuparem com a ecologia concreta e de votarem verde”, explica.

Escolhas

A diretora artística Séverine Saby, de 27 anos, costumava votar à direita (Sarkozy) ou centro-direita (Macron), mas, nesta eleição europeia escolheu os verdes. “Estou convencida de que a Europa tem um papel ecológico a desempenhar. Penso que as decisões relativas ao nosso planeta, à nossa consciência ecológica e às mudanças nos nossos hábitos de consumo devem ser levadas a cabo a nível europeu”, diz.

Como muito dos eleitores verdes, Séverine mora no 20º distrito de Paris e nunca tinha votado no movimento ecologista antes. Questionada se votaria de novo nas eleições municipais de março de 2020, ela disse que sim, mas acha difícil fazer o mesmo para as presidenciais.

A posição de Séverine coincide com a análise de Boy, para quem “o voto dos franceses depende do tipo de eleições”. “As eleições europeias são sempre boas para os verdes e uma das principais razões é que as políticas ambientais são, em grande parte, decididas em Bruxelas, como as normas de qualidade do ar, da água, as políticas sobre o uso de automóveis”, explica.

Ele acrescenta que o tipo de votação nas eleições europeias, com votos proporcionais, favorece os partidos menores, que podem lançar candidaturas sem fazer alianças e mesmo assim conseguir cadeiras no Parlamento Europeu.

Já as eleições presidenciais, majoritárias, dependem de alianças. Foi por isso que o cabeça de lista dos verdes, Yannick Jadot, desistiu de se candidatar à presidência em 2017 e apoiou o candidato de esquerda, Benoît Hamon, do PS.

Pragmática, a arquiteta Angelina Victorino, de 27 anos, também estreante no voto “ecológico”, disse que o que a convenceu a votar nos verdes desta vez foi ver que eles estavam à frente dos socialistas nas pesquisas. “Eu geralmente voto no PS, mas desta vez queria votar em quem estivesse mais bem colocado e, claro, e também representasse as minhas ideias. Foi o meu primeiro voto neste partido”, conta.

Ela disse que, paras as eleições municipais também deve decidir a partir das pesquisas se votará no PS ou nos verdes. Na vida cotidiana, ela pensa no que consume e faz a triagem do lixo, tentando diminuir o desperdício.

Liderança

Jadot, de 51 anos, é um velho conhecido dos franceses. Ex-diretor de campanhas do Greenpeace, deixou o ativismo profissional para fazer política partidária em 2009, ano em que os verdes tiveram a mais alta votação nas europeias e quando ele assumiu seu primeiro mandato como eurodeputado. Desde então, tem sido reeleito para o Parlamento Europeu.

Jadot fez uma campanha firme em que citou, tanto no seu material impresso como nos debates na TV, o Brasil de Bolsonaro como um antiexemplo do que se deve fazer em matéria de meio ambiente.

Boy acredita que os verdes se fortaleceram para as eleições municipais de 2020 e para as regionais de 2021, mas considera que os franceses ainda não estão prontos para votar num candidato ecologista para presidente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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