Em 4 dias, pescadores resgatam 53 pessoas em alto mar

"Eu vi muito medo e desespero. Vi homens, mulheres e crianças apertados em um barco, apontando para a gaiola de atum. Depois eu vi eles se levantarem em pé, quando nos avistaram. Estava muito escuro e o mar estava agitado. Em um segundo, o barco deles virou…".

Antonio Sardo, 49 anos, comandante do navio de pesca Gambero, da frota de Mazara del Vallo, reconstrói assim, durante uma ligação por rádio com a ANSA, os momentos dramáticos de mais um resgate, desta vez de 25 clandestinos, ocorrido durante a noite, a 56 milhas do sul de Malta. O segundo, em poucos dias, realizado pelos pescadores.

No último domingo, os seis homens que fazem parte da tripulação do Gambero, três dos quais são tunisianos, já tinham prestado socorro a outros 28 náufragos somalis. Na ocasião, os sobreviventes falaram sobre seis desaparecidos, entre os quais três crianças. E também naquele caso, como ocorreu ontem, o comandante do Gambero não hesitou em largar a gaiola com o atum que o barco puxava para resgatar os náufragos.

"Lançamos ao mar duas bóias", conta o capitão, "os primeiros a subir a bordo foram uma mulher que tinha acabado de dar à luz um recém-nascido, que morreu logo após o parto, e uma outra com uma criança de poucos meses. Essa criança estava melhor do que todo mundo. Demos leite a ela imediatamente. Depois, pedimos ajuda para o Centro de Socorro de Malta e para as unidades navais que cruzávamos no caminho".

Do navio militar francês Germinal, decola um helicóptero para transferir imediatamente as duas mulheres e mais outro imigrante, com um ombro fraturado, para o Hospital Mater Dei de Malta. Enquanto isso, lanchas saídas do porto de La Valletta partem em direção ao navio pesqueiro para transportar os outros sobreviventes.

A "longa noite" da tripulação do Gambero se conclui por volta das duas, quando os náufragos são entregues à Guarda Costeira maltesa. E são os oficiais da Guarda Costeira os primeiros a definir como "heróico" o comportamento dos seis marinheiros e do seu comandante: "Para salvar os náufragos", explicou, "eles não hesitaram, por duas vezes seguidas, em colocar em risco as próprias vidas e a carga que estavam transportando."

Um comportamento muito diferente daquele mostrado um ano atrás pelo navio rebocador maltês Budafel, que, a partir de ordens do próprio dono, deixou 27 somalis agarrados à gaiola de atum por três dias, sem permitir que subissem a bordo, até a intervenção de uma nave da Marinha Militar italiana.

Mas Antonio Sardo, que também colaborou nas buscas pelo único imigrante que ainda está desaparecido, não aceita a definição: "Eu e os meus homens não somos heróis, mas somente marinheiros. Simplesmente respeitamos a lei do mar que impõe a todos a obrigação de salvar qualquer um que se encontre em dificuldade.

Agora preciso me despedir, devo voltar ao trabalho. Nos últimos tempos, entre o aumento da gasolina e as restrições da pesca no Mediterrâneo, para nós está cada vez mais difícil sobreviver." O comandante do Gambero e sua tripulação ficarão no mar ainda por uma semana. Depois disso, e após ter salvado em poucos dias 53 vidas humanas, vão retornar a Mazara del Vallo, onde os esperam suas famílias.

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