Em meio às eleições parlamentares da Argentina, neste domingo, para renovar metade da Câmara dos Deputados, um terço do Senado e cargos eletivos nas províncias e municípios, a expectativa é sobre a definição das futuras forças políticas com vistas às eleições presidenciais de 2015. Impedida pela Constituição de candidatar-se a um terceiro mandato e sem condições de eleger maioria qualificada para reformar a Carta Magna, a presidente Cristina Kirchner e o futuro político de sua Frente pela Vitória (FPV – sublegenda do Partido Justicialista/Peronista) estão em jogo.
O estilo centralizador de exercer a política teve como uma das consequências a ausência da construção de um herdeiro político. Todos os líderes emergentes dentro do kirchnerismo foram abafados por Cristina e seu antecessor, o marido Néstor Kirchner, que morreu em outubro de 2010, ou por escândalos políticos. Com a situação econômica deteriorada, os analistas consideram difícil, mas não impossível, que a presidente consiga construir um herdeiro político do chamado “núcleo duro” do kirchnerismo. Os dois nomes mais cotados para esta candidatura é o governador de Entre Ríos, Sergio Uribarri, e o assessor da presidente para assuntos Legais e Técnicos, Carlos Zanini, um dos funcionários mais próximos dela.
“Vai depender da decisão dela de querer administrar a disputa interna peronista entre os aspirantes”, afirmou o analista da consultoria Fara & Associados, Carlos Fara. O governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, sempre tem sido considerado o candidato natural do kirchnerismo, embora tenha sido maltratado pelo casal justamente por suas ambições de chegar à presidência.
“O sucessor natural do kirchnerismo para a opinião pública é Scioli, e neste período de licença da presidente, ele tem ocupado o centro da cena política”, observou Fabián Perechodnik, diretor da consultoria Poliarquia. Nas pesquisas sobre os presidenciáveis, Scioli aparece em primeiro lugar e tem sido o nome mais amigável para os empresários e o mercado, já que é classificado como moderado e adepto ao diálogo.
A província de Buenos Aires é o principal distrito eleitoral da Argentina, com cerca de 40% do eleitorado. É onde as eleições presidenciais são decididas e onde a disputa parlamentar deste domingo concentra as atenções e aponta derrota do governista Martín Insaurralde (Frente pela Vitória/FPV), prefeito de Lomas de Zamora, reduto tradicionalmente peronista. A FPV é uma facção do Partido Justicialista/PJ (também chamado de peronista), criado pelos Kirchner.
O opositor de Insarraulde é o prefeito de Tigre, Sergio Massa, ex-chefe de Gabinete de Cristina Kirchner, que criou outra sublegenda peronista, a Frente Renovadora, como alternativa ao “modelo” kirchnerista. “Se confirma seu triunfo no domingo, é mais provável que Massa comece a aparecer nas pesquisas como o candidato a presidente preferido pela opinião pública, disputando o lugar de Scioli”, afirmou Fara.
Na pulverizada oposição, além de Massa, correm na disputa presidencial, o prefeito de Buenos Aires, a capital federal, Maurício Macri (Proposta Republicana/PRO, de centro-direita), e o ex-governador de Santa Fe e candidato a deputado federal, o socialista Hermes Binner (Frente Progressista Cívico e Social). “Hoje, temos como presidenciáveis junto à opinião pública, Massa, Scioli, Macri e algum acordo entre Binner e Cobos (Julio Cobos, da União Cívica Radical/UCR, de centro, ex-vice-presidente de Cristina, em seu primeiro mandato)”, disse Perechodnik.
Ele observou que, como Scioli e Macri ocupam cargos executivos, o desempenho deles será fundamental para mantê-los no caminho rumo a 2015. “A diferença de Massa com Scioli e Macri é que, como deputado, será mais difícil manter-se em alta junto à opinião pública nos próximos dois anos”, observou. A legenda de Massa abarca somente a província de Buenos Aires e não tem representações no restante do país. O voto é proporcional, em lista fechada chamada de “lista sábana” (lençol), e a Frente Renovadora deve eleger cerca de 15 deputados na província.