Os danos infligidos pelos rebeldes houthis ilustram a quase impossibilidade de um país proteger instalações vitais de uma ameaça como os drones. Os graves prejuízos sofridos pela Arábia Saudita foram resultado de um ataque de dez drones, segundo o Soufan Center. É possível que também tenham sido usados mísseis de cruzeiro, disse a instituição, citando autoridades do governo americano.
São armas à disposição dos houthis xiitas, que contam com o apoio do Irã desde que começaram a enfrentar, no Iêmen, as forças de uma coalizão liderada por Riad, há cinco anos. Em diferentes ocasiões, essas armas são capazes de burlar os sistemas de defesa sauditas.
Frente a uma ameaça dessa natureza, “é necessário um sistema de defesa supermoderno, como tem apenas um grupo aeronaval americano (organizado em torno de um dos porta-aviões da Marinha dos EUA)”, comentou o ex-chefe de um serviço de inteligência francês, que pediu para não ser identificado. “Um ataque coordenado, como o de sábado, não está ao alcance de qualquer um, como tampouco está ao alcance de todo mundo poder se defender de um ataque assim.
No início de julho, os houthis apresentaram, durante cerimônia em um lugar secreto, um drone-bombardeiro chamado “Sammad 3”, além do míssil de cruzeiro Al-Qods. Eles contam ainda com o drone armado de explosivos Qasef 2. “É o poder nivelador da tecnologia que permite aos mendigos ameaçarem grandes potências”, disse recentemente um funcionário de alta patente do Exército francês, que também pediu para não ser identificado. “Nos vemos derrotados por artefatos de 250 quilos, como nos vimos derrotados por minas no Mali.”
A Arábia Saudita gastou uma fortuna no sistema de defesa terra-ar, como baterias antimísseis americanas Patriot, radares e uma força aérea ultramoderna. Em 2018, gastou US$ 65 bilhões em armamentos, segundo o Instituto de Pesquisa pela Paz de Estocolmo.
Becca Wasser, analista da Rand Corporation, disse que “a Arábia Saudita conta com seus sistemas Patriot para interceptar os projéteis houthis, mas os resultados são moderados, porque este sistema está projetado para destruir mísseis, mais do que drones”. “O emprego de drones indica que os houthis perceberam a falha”, disse.
As dimensões das instalações petroleiras sauditas, tão grandes quanto cidades, e sua dispersão territorial dificultam a proteção. Fabricados com peças de origem iraniana, segundo a ONU, os drones dos houthis são de dimensões variáveis e podem se deslocar a várias velocidades e altitudes, motivo pelo qual são difíceis de interceptar.
“O problema é que não existe um sistema único para tratar todos os casos e a ameaça do drone evolui sem parar”, comentou um engenheiro militar francês. “Os lugares sensíveis estão protegidos com radares, mas agora existem drones autônomos, programáveis e insensíveis às interferências de GPS.”
Em 19 de agosto, a Força Aérea saudita publicou imagens de um de seus caça-bombardeiros F-15 destruindo, em pleno voo, um drone Qasef 2 no Iêmen – e garantiu ter neutralizado cerca de 20 aparelhos no ano anterior. Segundo vídeos publicados pelos houthis, seu drone de ataque Sammad 3 tem um raio de ação de 1.500 quilômetros. Isso significa que quase todo território da Arábia Saudita estaria a seu alcance, assim como várias regiões dos Emirados Árabes, aliado saudita na guerra no Iêmen.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.