Dimorfismo, fenômeno raro e polêmico

O nascimento de um avestruz com quatro patas, registrado no último mês de novembro, no Paraná, surpreendeu médicos veterinários, geneticistas e a população como um todo. Porém, o caso, considerado como de dimorfismo (anormalidade da forma), não é o único no mundo animal registrado pela comunidade científica.

A incidência de animais nascidos com dimorfismos é considerada relativamente pequena. Embora não haja estatísticas oficiais, a estimativa é de que os dimorfismos, juntamente com as doenças genéticas, atinjam apenas 0,5% dos animais nascidos vivos ou mortos no planeta. Entretanto, quando um caso aparece, gera muitas polêmicas e discussões.

O dado é do médico veterinário, geneticista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Ênio Moura, que estuda o assunto há cerca de trinta anos. ?Já tive acesso a diversos casos de dimorfismos entre animais. Porém, eles são considerados raros. São bastante semelhantes aos verificados em seres humanos (como no caso de gêmeos siameses, por exemplo)?, afirma.

São caracterizados como de dimorfismo casos de animais que nascem duplicados, ou seja, com partes repetidas do corpo (como o que aconteceu com o avestruz); e de animais que nascem sem algumas partes do corpo (como patas, dedos, entre outras). As anomalias geralmente têm como causas fatores genéticos, mas também podem ser conseqüência de fatores ambientais.

O geneticista Ênio Moura
e o proprietário do estabelecimento onde o avestruz nasceu, José Leônidas Wagner, observam raio-x da ave que apresentou a anomalia. Corpo do animal passou por necropsia e foi congelado.

As alterações genéticas podem ser resultado de modificações cromossômicas originadas, por exemplo, de cruzamentos consangüíneos (entre familiares). Já os fatores ambientais que podem influenciar no aparecimento de dimorfismos envolvem, entre outras coisas, contato com substâncias poluentes, ingestão de determinados tipos de medicamentos e aquisição de vírus.

Anomalias tidas como menores, como a falta de um dedo ou alterações de pelagem, por exemplo, permitem que o bicho sobreviva e não influenciam em sua qualidade de vida. Muitas vezes, alguns desses problemas podem ser solucionados por procedimentos cirúrgicos ou mesmo acompanhamento médico veterinário constante e periódico. Já dimorfismos considerados maiores podem influenciar diretamente na qualidade de vida do animal e mesmo impedi-lo de sobreviver.

?Não é o simples fato de um animal nascer duplicado que o leva à morte. O problema é que os seres duplicados geralmente também nascem com anomalias no coração e no pulmão e têm os sistemas nervoso e musculoesquelético afetados. Alguns já deixam o útero da mãe mortos?, explica Ênio.

Animais duplicados

No caso de bichos que nascem com duas cabeças, número a mais de pernas ou grudados pelo tórax, o que geralmente acontece é uma separação tardia do grupo de células originado do zigoto (célula reprodutora resultante da fusão de dois gametas de sexo oposto). Quando estas células não se dividem, dão origem a um único ser. Quando se dividem completamente, dão origem a gêmeos idênticos. Porém, quando a divisão ocorre de forma tardia e não acontece de maneira plena, surgem seres que compartilham algumas partes de um mesmo corpo (gêmeos siameses).

Em publicações científicas, existem muitos estudos relativos a seres duplicados, principalmente na área da medicina humana. Na medicina veterinária, quando os animais não sobrevivem, geralmente passam por análise cromossômica (capaz de identificar possíveis alterações) e têm seus corpos conservados para exames posteriores de extração de DNA. No Paraná, o professor Ênio Moura já enviou diversos artigos referentes a dimorfismos a publicações científicas, principalmente internacionais.

Avestruz chegou a quebrar a casca

O avestruz com quatro patas e duas colunas cervicais nasceu em uma propriedade de Rio Negro, no sudeste do Paraná. O animal tinha apenas um pescoço e uma cabeça. Chegou a quebrar a casca do ovo onde estava, mas não conseguiu sobreviver.

O caso, caracterizado como bastante raro, foi definido como de teratópagos (gêmeos siameses), com divisão incompleta de grupos celulares. Devido a uma divisão tardia da massa celular presente dentro da gema do ovo, ao invés de nascerem duas aves distintas (que seriam gêmeas), os animais acabaram unidos como se fossem um único ser.

O nascimento foi considerado raro, pois o aparecimento de gêmeos idênticos em aves é tido como bastante incomum. O corpo do animal passou por necropsia e posteriormente foi congelado para pesquisas futuras.

Cachorro

O avestruz não é o único animal duplicado que teve nascimento registrado no Paraná. Há cinco meses, em Curitiba, um cachorro nasceu com a parte posterior duplicada, em meio a uma ninhada de animais normais. O cão assustou os proprietários e, não conseguindo sobreviver, teve seu corpo congelado para estudos futuros. Está sob a responsabilidade do geneticista Ênio Moura.

Cadela sobrevive com feto mumificado

Em um canil da Região Metropolitana de Curitiba, uma cadela da raça Collie sobrevive com um feto mumificado dentro da cavidade abdominal. O caso não é considerado uma anomalia, mas também gera muita curiosidade.

Segundo o veterinário Fabiano Carstens Castel-lano, que atende o animal, a cadela foi castrada devido a uma infecção uterina. Cerca de três anos depois, em função de um problema articular, precisou passar por uma radiografia. No exame, foi identificada a presença do feto mumificado.

Não se sabe ao certo o que aconteceu. Porém, o veterinário explica que a suspeita é de que, antes de ter sido castrada, a cadela tenha ficado prenha e entrado em trabalho de parto. Nesta hora, não teria havido dilatação para o filhote nascer, o útero teria se rompido e o feto caído dentro da cavidade abdominal, sofrendo o processo de mumificação. ?Já que a cadela nunca deu cria, acredito que esta é a explicação mais provável?, informa.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo