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Foto: Ciciro Back/O Estado
Perceber a questão entre os estudantes é muito importante.

A fila da direita é das meninas e a da esquerda é dos meninos. Muita gente já passou por essa divisão na escola. A diferenciação por sexo começa desde cedo e de alguma forma contribui para uma divisão ou exclusão de grupos que pode durar a vida toda. Será que isso é positivo? Para Marilia Pinto de Carvalho, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora da educação escolar e relações de gênero desde 1989, a resposta é não.

?Diferenciar por sexo exclui, desconsidera individualidades e padroniza o que é adequado a meninas e meninos. Não ensina que todos podem fazer de tudo se quiserem, tentarem, tiverem a chance.?

Marilia explica que os professores devem ter o cuidado para que tanto os resultados acadêmicos quanto os interesses e atividades de meninos e meninas não sejam diferenciados. ?As diferenças devem decorrer apenas das individualidades de cada um. Caso o educador identifique que as crianças já trazem – de casa, da mídia – preconceitos a respeito do que é adequado para meninos e para meninas, precisa agir de forma diferenciada junto a cada um para ajudar a criança a se desenvolver plenamente.?

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Ela cita como exemplo uma experiência escolar. ?Havia uma menina que gostava de jogar futebol, mas foi proibida pela mãe, que chegou a procurar a professora. Num diálogo lento e cuidadoso, ela procurou convencer a mãe da inadequação de sua atitude. Hoje a menina é uma das melhores jogadoras do time misto da escola.?

Uma forma de não excluir pelo sexo é incentivar as individualidades dos alunos. ?Há meninos que se recusam a ler determinados livros, pois acham que poesia é coisa de menina. Nesse caso, também cabe aos professores intervirem para abrir o leque de opções da criança.?

Discriminação

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Um dos motivos da discriminação é a aceitação da sociedade. ?Se fizéssemos uma gincana de matemática na classe, por exemplo, em que os dois grupos competindo fossem negros e brancos, imediatamente saltaria aos olhos que essa diferenciação é discriminatória e autoritária. Por que aceitamos uma competição ou gincana de meninos contra meninas? Em muitos casos, quando se faz a divisão usando o sexo, só se aumenta o problema?.

Cláudia Vianna, doutora em Educação pela USP, explica que a discriminação ocorre quando ?as formas como as relações sociais se estruturam constituem um conjunto de relações hierárquicas que causam condições de inferioridade e subordinação a homens e mulheres, baseadas nas diferenças biológicas dos sexos?.

Atitudes diárias

As características físicas e os comportamentos esperados para meninos e meninas são reforçados, às vezes, de forma inconsciente, nos pequenos gestos e práticas do dia-a-dia. ?A forma como a família ou professores conversam com a menina, elogiando sua meiguice, ou quando justificam a atividade sem capricho do menino; o fato de pedir para uma menina a tarefa de ajudar na limpeza e ao menino para carregar algo torna possível perceber como as expectativas são diferenciadas para as meninas e os meninos. O que é valorizado para a menina não é, muitas vezes, apreciado para o menino e vice-versa?, diz Cláudia.

É preciso ficar atento, porque meninos e meninas desenvolvem seus comportamentos e potencialidades no sentido de corresponder às expectativas quanto às características desejáveis socialmente. ?Muitas vezes, a família e a escola orientam e reforçam habilidades distintas para meninos e meninas, transmitindo expectativas quanto ao tipo de desempenho intelectual considerado mais adequado a cada sexo, manipulando recompensas e sanções sempre que tais expectativas são ou não satisfeitas.?