Um dicionário com cerca de 1,1 mil palavras traduzidas ao espanhol “reviveu” o antigo idioma kunza, falado pelos habitantes da província chilena de Atacama, no extremo norte do país, e desaparecido desde o início do século XX. O dicionário, que será lançado este mês em San Pedro de Atacama, é fruto de três décadas de estudos de peritos do Instituto de Pesquisas Antropológicas da Universidade de Antofagasta.
O professor e diretor da única escola de ensino fundamental de San Pedro de Atacama, Silverio Paucay, destacou que a compilação de 1,1 mil palavras da extinta língua de seus antepassados “é um passo decisivo para resgatar o patrimônio cultural” dos ayllus, que se instalaram na inóspita região de Atacama, na base da cordilheira dos Andes, há cerca de 10 mil anos.
Por volta de 1900, morreram os últimos anciões dos ayllus, tornando extremamente difícil a reconstituição da língua. O coordenador da pesquisa, o etnolingüista Roberto Lehnert, ressaltou que o dicionário é apenas o primeiro passo para uma ressurreição do kunza.
“Não basta ter algumas palavras soltas e conhecer seu significado para afirmar que um idioma continua vivo. Também é fundamental a sobrevivência daqueles que o conhecem”, afirmou o estudioso.
Apesar disso, o dicionário poderá ser incorporado como um dos textos para o ensino de linguagem aos 1.316 alunos das oito escolas fundamentais e médias da região e do único liceu existente em Licana, antigo nome de San Pedro de Atacama.
Lehnert assinalou que o material recolhido até agora permitiu construir orações em base a conceitos básicos, que revelam a forte ligação entre os ayllus e o meio ambiente e recursos naturais que permitiram sua subsistência a quase três mil metros acima do nível do mar.