O aumento do consumo de drogas entre os adolescentes tem deixado os pais cada vez mais preocupados. O medo de perder os filhos para o vício tem feito alguns recorrerem aos serviços de detetives particulares para tentar confirmar o problema e tentar resolvê-lo o quanto antes.
O detetive Pedro, que trabalha há quatro anos com investigações, confirma que a procura de pais por seus serviços vem crescendo a cada dia, especialmente para investigar estudantes de colégios particulares e faculdades. "Praticamente a metade das investigações que faço são relativas a suspeitas de uso de drogas por adolescentes", diz o detetive, revelando que, na maioria das vezes, os pais só querem uma confirmação, já que a desconfiança é grande em função da mudança de comportamento dos filhos. O sintoma é tão forte que ele assegura que, em 90% dos casos, os pais têm razão e os adolescentes estão, de fato, envolvidos com drogas – geralmente consumo. Uma investigação desse tipo não dura muito mais do que sete dias, já que segundo o detetive, os adolescentes fazem amizade facilmente. "É só eu me aproximar do grupo de amigos que não tem erro".
O investigador particular Renato diz que o serviço tem crescido e por isso mesmo mantém uma equipe especial para atender a esses casos. "Eu tenho um funcionário de 19 anos e algumas moças também. Para evitar qualquer suspeita dos adolescentes, o ideal é que eles se infiltrem no meio da turma", diz. Para tanto, é necessário que o detetive conheça bem os hábitos, gírias e estilo dos adolescentes. Uma vez detectado o problema, a agência de investigação adota um trabalho diferenciado, específico para casos envolvendo pais de filhos envolvidos com drogas. "Temos detetives com formação em psicologia, que prestam a assistência no momento da revelação. Só saímos de cena quando o processo de recuperação está encaminhado".
Classes altas
Por ser um serviço trabalhoso, que depende da dedicação dos detetives durante 24 horas por dia, custa caro investigar a vida dos filhos. O detetive Roberto diz que o valor depende muito do caso, mas que uma investigação de quinze dias custa por volta de R$ 5 mil. Justamente por isso, o aumento da procura está diretamente ligada à disseminação dos entorpecentes entre jovens das classes sociais mais altas. "Antigamente, o termo drogado era diretamente relacionado às classes mais baixas. Hoje a realidade é outra. As drogas invadiram os redutos mais abastados", diz. Ele cita como exemplo uma investigação feita em Brasília, envolvendo o filho de um desembargador, que partiu do consumo para atos criminosos. "É uma questão muito grave, na qual vale mais prevenir do que remediar. Se os pais desconfiarem e não conseguirem tirar a confissão do filho, investigar com discrição é um bom caminho para cortar o mal pela raiz. Caso contrário, pode ser tarde demais".
Para José, que também mantém uma equipe com detetives mais jovens, fundamental é manter os profissionais informados sobre todos os tipos de drogas existentes, especialmente os sintomas e os grupos mais comuns que as usam. "Os freqüentadores de raves costumam usar ecstasy, por exemplo. Mas a cada dia surgem novas drogas e o pessoal precisa estar atualizado".
Outra modalidade que vem sendo utilizada por alguns detetives é o monitoramento dos jovens pelo computador das residências. O técnico instala um software que dá aos pais acesso a conversas suspeitas em salas de bate-papo ou acesso a sites que comercializam drogas. "Os traficantes estão agindo de todas as formas e a virtual é uma delas. Uma vez monitorados, atitudes suspeitas podem ser confirmadas", diz Cláudio, que trabalha em uma empresa de investigação.
Apesar da polêmica da invasão de privacidade dos jovens com a investigação de detetives particulares, os profissionais defendem a causa. "É melhor prevenir do que remediar. Detectando o problema logo, poupa-se tempo e dinheiro, já que muitas vezes não é necessária a internação. E mais que isso, é a saúde dos filhos que está em jogo", conclui José.
*Os nomes utilizados nesta matéria são fictícios, já que devido à profissão, o sigilo deve ser mantido.
Mudança brusca de hábitos é sinal de alerta
A psicóloga Vânia Borges faz parte do corpo de profissionais de uma clínica especializada no atendimento de jovens dependentes químicos, que também dá apoio de terapia aos familiares destes jovens, que têm de enfrentar o problema. Apesar de não condenar o uso de profissionais de investigações na descoberta do vício dos filhos, uma vez que a força motriz é o desespero, ela acredita que há outras formas de confirmar o problema.
"Cada droga tem seus sintomas, mas eles se refletem diretamente na mudança de hábitos. Se há uma mudança brusca, é para se preocupar", diz a psicóloga. Quando há a suspeita, muitos pais procuram a clínica para comparar os sintomas com o uso de cada droga e acabam bancando os detetives.
Nos Estados Unidos, onde o problema das drogas atinge índices chocantes, foram desenvolvidos testes eficientes para detectar o uso de drogas, que, por enquanto, só estão acessíveis a médicos e psicólogos. "Esses produtos permitem que os próprios pais banquem os detetives", diz Vânia. O primeiro deles funciona como um teste de gravidez e é necessária uma mostra da urina do filho. "Se ele nada dever, não vai se recusar a se submeter ao teste. Caso contrário, há de se suspeitar", acredita a psicóloga. Em uma das janelinhas do kit, o pai deve colocar um pouco de urina e, se for positivo, o teste acusa.
O outro teste, que tem um kit específico para cada tipo de droga, pode ser feito sem que o adolescente suspeite, uma vez que reage com suor, saliva ou lágrima. Trata-se de um produto incolor e inodoro que deve ser passado no telefone. Após o uso do aparelho pelo adolescente, deve-se passar uma substância reagente que vem no próprio kit. Se o jovem tiver consumido a droga, a substância vai reagir. "A partir da constatação, há o encaminhamento para o tratamento psicológico. Cada caso é um caso, já que o adolescente pode apenas ter provado e ainda não ser viciado. Mas quanto antes a confirmação do problema e o início do tratamento, maiores as chances de recuperação". Durante o tratamento psicológico, os profissionais detectam o motivo que levou o jovem a utilizar as drogas e trabalham justamente para evitar que eles caiam novamente no uso – o que é também um serviço digno de um detetive. "A maioria vem aqui por livre e espontânea pressão, sob as suspeitas dos pais, mas acabam entrando no tratamento de cabeça". (GR)