Cuidado com animais nas rodovias

Quem viaja de automóvel ou de ônibus já está acostumado a se deparar com carcaças de animais ao longo das estradas. Nas beiras das rodovias, o número de bichos mortos por atropelamentos costuma ser grande. Dependendo da região pela qual se viaja, é possível encontrar espécies domésticas (como gatos e cachorros), silvestres, galináceos e mesmo animais de grande porte (como bois e cavalos).

Para evitar os atropelamentos dos bichos e ao mesmo tempo prevenir acidentes com pessoas em função da presença dos mesmos nas pistas, a concessionária Viapar – Rodovias Integradas do Paraná – iniciou, no mês passado, uma campanha de alerta a motoristas e agricultores que possuem propriedades rurais ao longo dos 546 quilômetros de estradas sob sua concessão.

Os trabalhos, realizados em parceria com a Polícia Rodoviária Federal, são mais intensos na BR-376, entre os municípios de Nova Esperança e Paranavaí, uma região agropecuária onde costuma ser registrado o maior número de ocorrências envolvendo animais. Porém, também abrangem BR-369 (entre Cambé e Apucarana e entre Campo Mourão e Cascavel), BR-158 (entre Peabiru e Campo Mourão), PR-444 (entre Arapongas e Mandaguaraí), PR-317 (entre Maringá e Peabirú) e o contorno de Campo Mourão.

?Foram instalados cartazes ao longo das rodovias, são distribuídos folders informativos aos motoristas nas praças de pedágio e realizado cadastramento das propriedades rurais ao longo das entradas. Durante o cadastramento, é notificada a existência de animais e os responsáveis pelas propriedades são alertados sobre os perigos de deixarem seus bichos soltos nas proximidades de rodovias?, revela o engenheiro, chefe de operações da Viapar e coordenador da campanha, Luciano Ricardo de Oliveira Mendes.

Entre os meses de janeiro e junho deste ano, a Viapar retirou de suas estradas 627 animais mortos. Destes, 206 eram tatus, sendo que também haviam outras espécies silvestres, como três lontras e três jaguatiricas. Em 2005, a concessionária registrou, em média, sete acidentes mensais ocorridos devido a presença de animais nas pistas. Este ano, até agora, estão sendo constatados uma média de cinco, o que representa uma redução de 28%. ?A diminuição do número de ocorrências se deve aos alertas que já vínhamos fazendo de forma isolada. Agora, com a campanha, queremos que a redução seja ainda maior?.

Com a colaboração da Sociedade Protetora dos Animais de Paranavaí, os animais encontrados soltos nas proximidades das rodovias sob responsabilidade da Viapar são capturados e enviados para uma chácara localizada em Paranavaí. Porém, não é sempre que os animais são capturados a tempo de que um acidente possa ser evitado. Segundo Luciano, a presença de bichos nas pistas pode resultar em acidentes graves, envolvendo danos materiais e mesmo óbito.

Os animais pequenos podem fazer com que os motoristas se assustem e acabem saindo da estrada, muitas vezes perdendo o controle do veículo. Já animais grandes, como bois e cavalos, geralmente causam acidentes bem maiores. Muitas vezes, quando ocorre um atropelamento, o impacto faz com que o pára-brisa dos veículos seja quebrado e os animais invadam o espaço interno dos veículos, atingindo motoristas e passageiros. ?A situação é mais crítica durante a noite, quando a visibilidade é reduzida. Porém, a qualquer horário, os motoristas devem estar atentos, transitando em velocidade compatível com a rodovia?, comenta o engenheiro.

Vítima

Há cerca de quatro anos, o comandante da Polícia Militar de Arapongas, Kleber Mardegan, se envolveu num acidente ocasionado pela presença de um cavalo em uma das pistas da rodovia que liga Maringá ao município de Marialva. Ele viajava à noite e, por volta das 11h30, notou uma movimentação diferente em certo trecho da estrada localizado após pequena subida. Um caminhão havia atropelado um cavalo, que foi destroçado e ficou com parte do corpo na pista.

?Reduzi bastante a velocidade, mas não consegui enxergar o corpo do animal no meio da estrada e acabei passando com uma das rodas por cima dele. O veículo deu um pequeno salto e foi jogado em direção ao acostamento da direita, fiz uma manobra e joguei o carro para a esquerda. Então, para desviar do canteiro central, joguei novamente para a direita e o veículo acabou rodopiando, parando na contramão no meio da estrada?.

Kleber não se feriu, mas seu carro sofreu diversas avarias, indo parar na concessionária. O motorista do caminhão sobreviveu, embora o veículo também tenha ficado bastante estragado, mas Kleber acredita se tivesse sido um carro a atropelar o cavalo, as conseqüências do acidente não teriam sido as mesmas. ?Se um veículo pequeno tivesse se chocado com o animal, com certeza o motorista teria morrido. Animais soltos perto de estradas são extremamente perigosos?.

Censo aponta 4 mortes por semana na BR-476

Até junho, Viapar retirou 627 animais mortos das estradas.

Um censo canino realizado em 2004 na área de proteção ambiental (APA) do Iraí, entre os municípios de Quatro Barras e Campina Grande do Sul,  Região Metropolitana de Curitiba, acabou revelando um grave problema ligado ao atropelamento de cães na BR-476, que atravessa os dois municípios.

Realizado por integrantes do setor de Ciências Agrárias da UFPR, sob coordenação do médico veterinário Alexander Biondo, o trabalho mostra que, semanalmente, uma média de quatro animais são atropelados no local, tendo suas carcaças expostas por vários dias, o que contribui com a degradação ambiental.

?Os cães são atropelados e, quando chove, os restos de seus corpos acabam sendo carregados para a represa do Iraí, poluindo-a e comprometendo a qualidade da água que abastece grande parte de Curitiba. Tempos atrás, alguns animais chegaram a ser vistos na grade da represa?, afirma Biondo.

Antes do censo realizado pela UFPR, a idéia de algumas pessoas que trabalham na represa era promover trabalhos de recolhimento das carcaças. Hoje, o objetivo é outro: evitar que os animais sejam atropelados, minimizando assim todos os problemas.

?Constatamos que a maioria dos cães eram atropelados ao tentar acompanhar pessoas na travessia da estrada. Por isso, chegamos à conclusão que a melhor solução seria evitar os atropelamentos, conscientizando a população sobre a questão e orientando-a a não atravessar em locais inadequados?. Outra solução seria a construção de trincheiras (uma já está sendo feita na altura do bairro Menino Deus, em Quatro Barras) e passarelas nos locais considerados mais críticos.

Centro recupera bichos encontrados nas estradas

No Paraná, muitos dos animais silvestres encontrados machucados em beiras de estradas são levados para recuperação no Cetas (Centro de Triagem de Animais Silvestres), localizado no município de Tijucas do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, e mantido pela PUCPR, em parceria com o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis).

De acordo com o professor de clínica de animais selvagens da PUCPR, Ricardo Vilani, a quantidade de animais que chegam ao Cetas feridos em função de atropelamentos costuma ser grande. Entre eles, já deram entrada para tratamento lobos-guarás, tamanduás-mirins, primatas e mesmo um gato-maracajá, que não conseguiu sobreviver.

Alguns chegam com fraturas leves como fraturas pélvicas. Outros, morrem depois de alguns dias ou têm a saúde tão comprometida que nunca mais podem retornar à natureza. ?Recebemos aves com fraturas de asas e mamíferos com fraturas de crânio e coluna?, conta Vilani. ?Os atropelamentos acontecem porque as estradas passam nas áreas de ocorrência dos animais, fazendo com que grande parte da vegetação seja mudada?.

Domésticos

A PUCPR também recebe, em seu hospital veterinário, localizado em São José dos Pinhais, uma série de cães e gatos vítimas de atropelamentos. Na maioria das vezes, os animais são atropelados na Avenida das Torres (que liga Curitiba a São José) e levados ao hospital pelos motoristas, que se responsabilizam e arcam com as despesas de todos os procedimentos de recuperação realizados. ?Os animais atropelados na avenida geralmente não têm donos ou fugiram de quintais. Muitos não sobrevivem?, declara o coordenador da unidade hospitalar para animais de companhia da universidade, Marconi Rodrigues.

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