“O inimigo está à espreita!”, afirmou ontem a presidente Cristina Kirchner, elevando o tom da crise institucional que afeta a Argentina há oito dias. Ela acusou de “conspiração” o vice-presidente da república, Julio Cobos, o presidente do Banco Central, Martín Redrado, os partidos de oposição e os chamados “fundos abutres”, que possuem títulos da dívida pública, em estado de calote desde 2001, e não integraram a reestruturação dos títulos feita em 2005. Segundo Cristina, os fundos abutres são como as “ratazanas que infestam o Riachuelo”, o rio mais poluído da Argentina.
“Eles estão à espreita para interromper o processo político de recuperação, criação de empregos e pagamentos das dívidas”, afirmou a presidente num comício na Grande Buenos Aires, onde o governo tem seu principal reduto eleitoral. Na terça-feira, dois fundos de investimento conseguiram da Justiça de Nova York o embargo de US$ 1,7 milhão de uma conta do BC argentino nos EUA. Embora a quantia seja pequena em relação ao total das reservas, a notícia teve um impacto negativo em Buenos Aires.
O pivô da crise é a determinação do governo em usar US$ 6,5 bilhões das reservas do BC para o pagamento de parte da dívida pública que vence neste ano, medida à qual se opõem Redrado e a oposição. Esta afirma que o governo pretende recorrer às reservas para continuar com o “festival de gastos públicos” com o qual tenta recuperar parte da popularidade perdida, de olho nas eleições de 2011.
Ontem, a juíza federal María José Sarmiento aceitou uma medida cautelar reforçando a negativa para a utilização das reservas. Assim, as reservas do BC não poderão ser transferidas para o Tesouro até que o Parlamento decida o caso. Setores da esquerda exigem que a dívida externa seja considerada “ilegítima”, já que ela disparou durante a ditadura (1976-1983).