A crise em Honduras está causando tensão entre Brasil e Estados Unidos. Ontem, o senador Richard Lugar, líder dos republicanos na Comissão de Relações Exteriores e confidente do presidente Barack Obama, divulgou um comunicado exortando o Brasil a reconhecer as eleições em Honduras, independentemente da volta do presidente deposto Manuel Zelaya ao poder.

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“Se as eleições do dia 29 cumprirem parâmetros internacionais de equilíbrio e transparência, eu apoio fortemente seu reconhecimento. Países da região, o Brasil em particular, devem considerar o reconhecimento do resultado como a única maneira de os hondurenhos ultrapassarem a crise que já dura cinco meses”, disse Lugar no comunicado. Para os norte-americanos, o Brasil vem apenas batendo na tecla de que não reconhecerá as eleições se Zelaya não for restituído, mas não ofereceu nenhuma alternativa viável.

“O Brasil não está sendo pragmático, não existe nenhuma possibilidade real de Zelaya ser restituído antes da eleição”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo uma fonte do governo norte-americano. “Eles não estão ajudando, não ofereceram nenhuma solução construtiva.” Os EUA estão praticamente isolados – na região, apenas Panamá e Colômbia declararam que reconhecerão a votação de qualquer maneira. Ontem, numa declaração conjunta, Brasil e Argentina reiteraram que não reconhecerão as eleições se elas forem conduzidas pelo governo de facto.

Um diplomata brasileiro afirmou que os EUA “estão reféns de sua política doméstica” no posicionamento em relação a Honduras, “e o Brasil não vai se submeter a isso”. A ala mais conservadora do Congresso vê Zelaya apenas como um aliado o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e não considera que sua remoção do poder tenha sido um golpe de Estado.

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Acusação

O deputado federal José Genoino (PT-SP) informou ontem, por meio de sua assessoria, ter tido acesso a um documento da Força Aérea dos EUA que detalha o projeto da instalação das bases militares norte-americanas na Colômbia, no qual fica explícita a intenção de utilizá-las para “operações militares de amplo espectro” na América do Sul.

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O texto está entre as justificativas para a aprovação, pelo Congresso, do orçamento de Defesa para 2010. No documento, a América do Sul é chamada de “sub-região crítica”, onde a “segurança e a estabilidade estão permanentemente ameaçadas pelo narcotráfico patrocinado por insurgências terroristas, governos anti-EUA, pobreza endêmica e desastres naturais”.

“Esse documento é uma espécie de réu-confesso da política americana para influenciar, intervir, pressionar na América do Sul, tendo como alvo o combate a governos progressistas, especificamente Venezuela, Bolívia e Equador”, afirma Genoino.