As crianças sem nome permaneciam mudas hoje, encostadas em uma esquina dentro dos terrenos do Hospital-Geral de Porto Príncipe, capital do Haiti devastada pelo terremoto ocorrido no último dia 12. São três entre milhares de menores que ficaram à deriva, com fome e sede, e perambulam pelos acampamentos improvisados de sobreviventes na cidade, sem proteção alguma contra enfermidades ou contra traficantes de menores, e frequentemente sem ninguém para cuidar deles.
“Oi, Joe, como está?”, pergunta o médico norte-americano, dirigindo-se a um menino de 11 anos, com o nome que um assistente social lhe conferiu, pois não sabia o verdadeiro. Não houve resposta da criança. “Joe”, “Baby Sebastian” e a menina, que não tem sequer um apelido, não falaram nem choraram desde que chegaram, há menos de 48 horas, trazidos por vizinhos ou outras pessoas de Porto Príncipe. “Sebastian” tem só uma semana de vida e foi resgatado dos braços de sua mãe morta.
Apesar de tudo, essas crianças têm alguma sorte. A médica haitiana Winston Prince e sua equipe estão cuidando de suas infecções e outros ferimentos. “Há aproximadamente um milhão de crianças órfãs ou sem companhia, ou de menores que perderam um de seus pais”, disse Kate Conradt, porta-voz do grupo humanitário norte-americano Save the Children (Salve as Crianças). “São extremamente vulneráveis.”
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estabeleceu um acampamento especial para crianças que, por algum motivo, se separaram de suas famílias após o terremoto e correm risco de serem raptadas por traficantes ou pessoas que queiram abusar delas. A Save the Children instalou espaços especiais para as crianças em 13 acampamentos improvisados. A Cruz Vermelha e outras entidades atuam para tentar reunir as famílias.
Em meio às dificuldades de atendimento, crianças chegaram a receber alta de hospitais, mesmo sem ter ninguém para ampará-las. Simplesmente não há camas disponíveis para todos. As agruras enfrentadas pelos menores são particularmente graves em um país no qual, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), um terço dos 9 milhões de habitantes precisam de ajuda internacional após o terremoto.
Atendimento médico
A ONU estimou que 2 milhões de pessoas precisam de comida, mas somente 500 mil delas receberam alimentos até agora. A situação no atendimento médico melhorou, mas ainda é crítica. “Nos tratam como animais, nos batem, mas somos um povo faminto”, disse Muller Bellegarde, de 30 anos, que esperou 90 minutos sob o sol quente por comida. Um porta-voz da Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou que é preciso mais pessoal do setor médico, sobretudo especialistas em reabilitação, para ajudar os aproximadamente 200 mil haitianos que sofreram amputações e outras cirurgias.