A maior parte da soja é exportada
na forma de grãos, in natura.

O engenheiro criador do Pró-Álcool, José Walter Bautista Vidal, um dos mais renomados cientistas do mundo em energias alternativas ao petróleo, fará palestra nesta quarta-feira (30/04), a partir das 20 horas, no auditório da Associação Comercial e Industrial de Londrina (ACIL), que promove o evento em parceria como o Londrina Convention & Visitors Bureau. Na palestra, intitulada “Biomassa, revolução verde para o Brasil”, Vidal relatará suas experiências na criação de alternativas para o modelo energético baseado no petróleo, que pode ser substituído por biomassa, como ele chama os óleos vegetais de soja, cana, mamona, dendê, babaçu e mandioca, entre outros.

Além de criar o Pró-Álcool, que ele denuncia ter sido quase abandonado por pressão das companhias petroleiras, Vidal participou de várias experiências com energias alternativas e criou o Sistema Biomassa, baseado nas condições geográficas e sociais do Brasil: “Temos tudo que os países do hemisfério norte não têm para criar um modelo energético alternativo ao petróleo. Temos terras disponíveis, chuvas regulares e sol abundante durante todo o ano, além de milhões de pessoas que podem voltar ao campo, desinchando as grandes cidades, se abrirmos alternativas rentáveis de trabalho agrícola, com a criação de usinas para transformação dos vegetais em óleos combustíveis. O que está sendo feito hoje em Curitiba, onde uma frota de ônibus urbanos roda movida a álcool e soja, pode ser feito em todo o país, não como experiência mas como alternativa segura ao modelo petroleiro, que só aumenta nossa divida externa e polui o planeta”.

Soja combustível

“É bastante simbólico” ? acrescenta Vidal ? “falar de energias alternativas numa cidade onde se cobra o mais alto preço de combustíveis no país. Aqui se produz muita soja, mas a menor parte da colheita é transformada em óleo comestível e a maior parte é exportada na forma de grãos, in natura, repetindo o mesmo erro econômico da cafeicultura, com a agravante de que exportamos também o farelo e a torta de soja, resíduos das indústrias de óleo, que vão alimentar gado norte-americano e europeu, para competirem com a nossa carne no comércio internacional. No entanto, essa soja pode se tornar também óleo combustível, de forma que a própria colheita, o trato, o transporte e até a sua industrialização podiam ser feitos com óleo da própria soja, em vez de diesel. E a soja é apenas exemplo dos vários óleos vegetais que podem promover uma revolução verde no Brasil, inclusive para exportação, pois só no cerrado de Mato Grosso temos terras suficientes para plantar canaviais capazes de abastecer 500 milhões de veículos”.

Outro exemplo citado pelo cientista é Minas Gerais: “Lá há 20 mil propriedades rurais leiteiras, muitas delas com canaviais, que se transformam em açúcar, rapadura etc. e até ração para gado, mas podiam se transformar também em álcool, com a criação de usinas cooperativadas, como existem as cooperativas leiteiras. O binômio álcool-leite pode gerar a renda que falta hoje aos produtores de leite, desde que haja, claro, financiamento, interesse e apoio dos governos federal e estaduais, o que infelizmente ainda não ocorre. Esperamos que as mudanças de poder político no país possam resultar também em mudanças de orientação do modelo energético. Hoje, no mundo, não detém o poder quem tem dinheiro, como revelou Marx, pois têm poder é quem detém os recursos energéticos, e a guerra no Iraque está aí demonstrando isso. O Brasil tem tudo para se desenvolver e se fortalecer com um modelo energético voltado para os vários tipos de biomassa”.

Ferro-velho

Além da palestra na ACIL à noite, o cientista falará também para pesquisadores do Instituto Agronômico do Paraná e da Embrapa/Soja, no Iapar, a partir das 15 horas, com debate depois de palestra. Pela manhã, a partir das 10 horas, dará entrevista coletiva no ferro-velho Parts & Peças, na esquina da Avenida Dez de Dezembro ao lado da estação rodoviária. Idealizadores da vinda do cientista a Londrina, o médico José Luiz Baldy e o escritor Domingos Pellegrini explicam que a escolha do local da entrevista coletiva é uma forma de deixar evidente que, se o país continuar seguindo esse modelo energético, baseado num combustível fóssil com os dias contados, os parques industrial e automobilístico brasileiros estarão condenados a se tornarem ferro-velho por falta de combustível. Eles estão criando o Núcleo de Estudos Biomassa, para continuar divulgando o sistema de energia renovável à base de óleos vegetais. “Essa é a melhor coisa que se pode fazer pelo país, e por isso entregamos ao presidente Lula carta e livro a respeito disso, quando ele veio a Londrina recentemente”, afirma Pellegrini.

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