Na era da internet, da TV a cabo e do telefone celular, ainda existem pessoas que mantêm o hábito de criar pombos-correio. Porém, se antigamente o pássaro era utilizado como um importante meio de comunicação, atualmente representa um hobby na vida de seus criadores, sendo treinado para participar de competições de vôo.
A atividade de criar e treinar pombos-correio é conhecida como columbofilia e os criadores são chamados de columbófilos. As palavras vêm de ?columbos?, que em latim significa pombo, e de ?fila?, que quer dizer amigo, em grego. No estado, existe a Sociedade Columbófila do Paraná, que foi fundada há cerca de quinze anos e tem aproximadamente quarenta associados, dos quais doze possuem aves que participam de competições.
?A columbofilia une o útil ao agradável. Além de prepararem pombos para campeonatos, muitos columbófilos têm a atividade como um hobby, capaz de contribuir com a redução do estresse do dia-a-dia. O simples convívio com os animais é considerado bastante prazeroso?, comenta o advogado aposentado e presidente da sociedade, Wellington de Oliveira, que é columbófilo há 25 anos e tem cerca de 220 aves.
Relógios especiais são utilizados para registrar o horário de chegada nas competições. |
O pombo-correio tem a aparência muito parecida com a do pombo comum, observado nas ruas das grandes e pequenas cidades. Entretanto, a semelhança é apenas no visual. As aves criadas com esta finalidade possuem grande capacidade de orientação e são descendentes do pombo Columba livia, que há muito tempo vivia em rochedos localizados no litoral europeu.
?O ser humano começou a fazer cruzamentos entre o Columba livia e pombos de outras espécies até que se chegou aos pombos-correio que temos hoje?, diz o bancário aposentado e tesoureiro da sociedade, Domingos Ferreira Neto, que cria pombos desde a infância e hoje é proprietário de oitenta animais.
Segundo Domingos, os pombos-correio começaram a ser usados como meio de comunicação há muito tempo, na Grécia, no Egito e em quase todo o Oriente Médio. No passado, sem rádio, telefone e televisão, os moradores de diversos vilarejos utilizavam os pombos para mandar recados e convites de festas de aniversário e casamento a familiares e amigos que viviam em outras regiões. Eles criavam os animais e, depois que os mesmos desenvolviam um bom senso de orientação, começavam a trocá-los entre si.
?Os pombos-correio, independente do local em que forem soltos, sempre retornam para o lugar em que nasceram e passaram os primeiros momentos de suas vidas. Desta forma, uma determinada pessoa dava um de seus pombos a um familiar que morava em local mais distante para que, em caso de necessidade, este pudesse enviar-lhe notícias. Na maioria das vezes, também ficava com um pombo pertencente ao familiar, podendo assim também entrar em contato no momento desejado?, explica Domingos.
Na Segunda Guerra Mundial, os pombos-correio tiveram papel importante. Como não eram identificados por radares, eram utilizados para levar mensagens a tropas aliadas sem despertar a atenção de tropas inimigas. Na época, alguns pombos belgas e alemães chegaram a ser condecorados como prestadores de serviço à humanidade, tendo seus bustos esculpidos.
Competições
Foi na Bélgica, no início do século XX, que alguns criadores começaram a desenvolver nos pombos características de competição. Naquele país, atualmente se encontra a sede da Federação Internacional de Columbofilia. A velocidade média de um pombo-correio é de sessenta quilômetros por hora, mas eles são capazes de atingir muito mais.
Domingos revela que o recorde de um pombo brasileiro é de 1.760 metros por minuto. Já o recorde de distância nacional foi atingido em 1973, com um pássaro voando de Belém, no Pará, a Goiânia, em Goiás, numa distância de 1.717 quilômetros, percorridos em três dias. Em média, um pombo-correio voa entre doze e quatorze horas por dia.
Todos os animais utilizados em competições costumam ter pedigree e são anilhados. Na anilha é colocada uma numeração e o ano de nascimento do animal, informações que o acompanham por toda a vida. A criação de pombos-correio não necessita de autorização do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) para ser desenvolvida, pois o animal é considerado exótico e não natural do Brasil.
Competição requer tratamento especial
Para poderem participar de competições, os pombos-correio recebem tratamento especial por parte de seus criadores. Os cuidados envolvem rações próprias para pombos, que muitas vezes são misturadas com milho, ervilha, trigo, lentilha, aveia e arroz em casca; vacina anual contra bolba, uma doença que causa pelotas na pele; desvermifugação a cada quatro meses; e dedetização do pombal também a cada quatro meses.
?O pombo-correio, por natureza, é um pássaro bastante resistente, podendo viver até quinze anos?, informa Domingos Ferreira Neto. ?A bolba é uma das principais doenças a atingi-los, quando não existe aplicação de vacina. Porém, a principal causa de morte dos pombos é por ataques de aves de rapina, o que acontece quando os animais estão livres participando de competições. Isso é uma coisa que não temos como evitar?.
Treinamento
O treinamento dos pombos-correio começa com os animais ainda bastante jovens. Ao completarem sete dias de vida, eles são anilhados com anilha oficial. Ao três meses, começam a sair dos pombais e a voar nas redondezas das propriedades onde são criados. Durante estes vôos, fazem reconhecimento da área e passam a marcar pontos estratégicos, como torres de igreja, grandes árvores e torres de telefonia celular. Dois meses depois, são levados pelos proprietários a um local distante cinco quilômetros do lugar de criação. Após libertos, alguns animais chegam a voltar a seus pombais de origem em dez minutos.
?Depois que os pombos voam cinco quilômetros e voltam para casa, passam a ser soltos em distâncias cada vez maiores. Quando alcançam oitenta quilômetros de vôo, distância percorrida em aproximadamente uma hora, são considerados preparados para participar de competições?, afirma o bancário aposentado. Os criadores paranaenses participam de competições estaduais, nacionais e internacionais. No estado, a Sociedade Columbófila promove provas periódicas. Os animais participam das categorias filhote, velocidade (até 250 quilômetros), meio fundo (até 500 quilômetros) e fundo (acima de 500 quilômetros).
Para que os criadores vencedores, premiados com troféus e medalhas, possam ser conhecidos, os pombos, no início da competição, recebem uma borracha com um número em cima da anilha oficial. Quando o animal chega em seu pombal de origem, o proprietário o captura, tira a borracha e a insere em um relógio especial – que registra o horário de chegada. Posteriormente, os dados de todos os relógios, de todos os criadores, são processados por um computador – que indica os vencedores.