Crescem as denúncias de corrupção envolvendo o comércio entre a Argentina e a Venezuela, mas o governo de Cristina Kirchner tenta desvincular-se do escândalo. A imprensa local publicou hoje uma série de detalhes sobre o caso, que veio à tona após depoimento do ex-embaixador argentino em Caracas, Eduardo Sadous, à Justiça. O diplomata revelou um esquema do Ministério de Planejamento argentino pelo qual os empresários seriam obrigados a pagar comissões para poder exportar seus produtos à Venezuela.
Segundo o jornal “Clarín”, a empresa Palmat Internacional, radicada em Miami e que oferece serviços a companhias de comércio exterior, cobra 15% de comissão pela venda de máquinas agrícolas garantida por um convênio bilateral de cooperação econômica assinado em 2005.
O valor total da comissão, conforme a reportagem, é dividido com outra empresa, denominada Madero Trading, que funciona desde 2007. Cerca de 40 empresas do setor de máquinas e equipamentos agrícolas da Argentina assinaram o contrato de venda de seus produtos ao Ministério da Agricultura e Terras da República Bolivariana da Venezuela, no qual se comprometem, segundo o jornal, a pagar à Palmat 10% do valor total das negociações como “comissão pela gestão da venda” mais 5% para “recuperação de gastos”.
O convênio, assinado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e pelo então mandatário argentino, Néstor Kirchner, criou um fundo de investimento de US$ 90 milhões para fomentar a troca de óleo diesel venezuelano por máquinas argentinas. As denúncias estão sendo investigadas pelo juiz federal Julián Ercolini desde 2007, quando estourou outro escândalo envolvendo os dois países – o “caso da maleta”.
Na ocasião, um empresário venezuelano desembarcou em Buenos Aires com dólares que, supostamente, eram destinados à campanha eleitoral de Cristina Kirchner. O partido de oposição Coalizão Cívica, entrou com ação na Justiça para investigar a existência de uma rede de corrupção entre Kirchner e Hugo Chávez.
Contra-ataque
Na semana passada, o caso ganhou relevância com as declarações do diplomata. Depois de classificar as denúncias como “injuriosas e caluniosas” e de fazerem parte de uma “operação política” para “sujar” a imagem de pessoas envolvidas na relação bilateral, o ministro de Planejamento, Julio De Vido, contra-atacou com ameaças.
Principal apontado do suposto esquema de propinas, De Vido deu um prazo de 24 horas para que Sadous comprove as denúncias, que foram reforçadas ontem pelo presidente da Federação Agrária, Eduardo Buzzi, e pelo senador da Província de Córdoba, Luis Juez. Ambos também foram citados por De Vido. O ministro afirma que, se o prazo de 24 horas não for obedecido, ele se reserva o direito de iniciar processos penais e civis contra os mencionados.