Sob acusação de sequestro e cárcere privado, a Corte de Santa Ana, na Califórnia (EUA), condenou no dia 6 os brasileiros Alaor do Carmo de Oliveira Junior, de 55 anos, e Reynaldo Eid Júnior, cuja idade não foi divulgada, à prisão perpétua. A alegação é de que ambos eram “coiotes” – levavam imigrantes ilegais para dentro do País – e teriam sequestrado e mantido em cativeiro uma brasileira com o filho. O caso ocorreu em 24 de novembro de 2005 e a sentença, dada por júri popular, só foi tornada pública agora.

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Eid Júnior morava em Nova York, nos Estados Unidos, e nenhum parente dele foi localizado. Oliveira Junior foi criado em Araraquara, a 270 km de São Paulo, mas, ao casar com a cabeleireira Mary Aparecida de Souza Oliveira, de 49 anos, se mudou para Borborema. Ele saiu pela primeira vez do Brasil em 1998. Ficou poucos meses nos Estados Unidos e, em 2000, voltou ao país, com visto para permanecer por seis meses. ]

Casado desde 1981 com Mary, ele decidiu estender a permanência nos EUA para juntar dinheiro e pagar a faculdade dos dois filhos. Ilegal, morou na cidade de Danbury, em Connecticut, e trabalhava como carpinteiro. Construiu casas entre 2000 e novembro de 2005. O plano, segundo a família, era voltar em dezembro daquele ano. Em 2005, no entanto, ele resolveu fazer um trabalho extra: transportar passageiros na fronteira, a convite de outro colega brasileiro. Na terceira viagem, pegou Ana Paula Morgado Ribeiro e o filho dela, Yago, com 5 anos na época. Eles haviam entrado ilegalmente nos EUA pelo México e iriam se encontrar com o marido dela, Jefferson Ribeiro, na Flórida.

No meio do caminho, houve a acusação contra os brasileiros. Segundo Mary, Ana Paula armou uma emboscada e chamou a polícia quando eles pararam para dormir em um hotel na cidade de Costa Mesa, na Califórnia. Ela não tinha visto para ficar no país e alegou ter sido sequestrada – o resgate seria de US$ 14 mil, segundo a acusação. A polícia foi chamada e prendeu os dois brasileiros que faziam o transporte.

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Mary conta que só soube da prisão quando ele conseguiu telefonar para casa por alguns minutos e dar a notícia. “Foi a única vez que nos ligou”, comenta a mulher. “Eu perdi o meu telefone fixo de tanto ligar para deputados, senadores e Itamaraty, pedindo auxílio. Eu gastei uma fortuna e não consegui nenhuma ajuda”, lamenta. Segundo ela, ao serem presos, os dois brasileiros receberam a proposta de confessar o crime. “Como meu pai era inocente, ele nunca poderia fazer isso, pois acreditava na Justiça”, diz o filho mais novo, Flávio Augusto do Carmo Oliveira, de 22 anos. O mais velho, Alaor do Carmo de Oliveira Neto só pensa em arrumar uma forma de tirar o pai da prisão americana. “Sinto uma revolta muito grande e só iria para lá (EUA) se fosse pra visitar meu pai”, afirma o jovem, que também deixou a faculdade.

Defesa

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Para a família de Oliveira Junior, o suposto golpe do sequestro veio para forçar o governo americano a dar autorização para que a mãe e o filho permanecessem no país. Ana Paula ainda mora nos EUA, mas não foi localizada.

O cônsul-geral adjunto do Brasil em Los Angeles, Júlio Victor do Espírito Santo, diz que tomou conhecimento do caso há pouco tempo e afirma já ter entrado em contato com os dois brasileiros e com seus advogados. “Compareci à audiência de sentenciamento e pude comprovar, pelas palavras da juíza Carla Singer, que a questão era bastante complexa.” Espírito Santo afirma que não teve acesso a todos os documentos do processo, mas discorda da decisão da Justiça americana. “Creio que a sentença foi extremamente severa e houve parcialidade. A juíza desconsiderou tudo que poderia ser atenuante, mas considerou todas as possíveis agravantes.” Ele afirma que os advogados recorreram da decisão e a apelação está nas mãos dos defensores públicos.