A Coreia do Norte colocou nesta segunda-feira (9) suas forças armadas em prontidão e ameaçou retaliar contra quem quer que tente impedi-la de realizar o lançamento de um satélite visto por potências regionais como “um teste de míssil disfarçado”. “Abater nosso satélite lançado com fins pacíficos significará precisamente uma guerra”, advertiu o comando militar norte-coreano, em declaração divulgada pela agência estatal de notícias do país. O governo norte-coreano também cortou uma linha militar direta com a Coreia do Sul, o que provocou o fechamento total da fronteira e reteve em seu território centenas de cidadãos sul-coreanos que trabalham em um polo industrial em Kaesong.
A advertência desta segunda coincidiu com o início das manobras militares anuais realizadas em conjunto pela Coreia do Sul e pelos Estados Unidos. A Coreia do Norte denuncia as manobras como preparativos de uma invasão. Na semana passada, Pyongyang advertiu que não poderia garantir a segurança de voos comerciais sul-coreanos que passam perto de seu espaço aéreo durante as manobras militares. Analistas acreditam que o país esteja tentando chamar a atenção do presidente dos EUA, Barack Obama, em um momento no qual seu governo formula uma política para a Coreia do Norte.
O governo norte-coreano informou que está levando adiante um plano para enviar um satélite de comunicação ao espaço. Governos vizinhos consideram o lançamento provocativo e acreditam que Pyongyang estaria tentando acobertar o teste de um míssil de longo alcance capaz de chegar ao Alasca. Funcionários norte-americanos e japoneses disseram que abateriam o projétil, se necessário, irritando ainda mais Pyongyang.
Segundo o governo da Coreia do Norte, qualquer interceptação acarretará “uma ação retaliatória justa não apenas contra todos os meios de interceptação envolvidos, mas também contra as fortalezas” de EUA, Japão e Coreia do Sul, informou a nota. Num comunicado separado, a Coreia do Norte informou que suas forças armadas estão “em prontidão total de combate”.
Enviado especial de Obama à região, Stephen Bosworth pediu à Coreia do Norte que não dispare nenhum míssil. Já Won Tae-jae, porta-voz do Ministério da Defesa da Coreia do Sul, qualificou as ameaças como “retórica”, mas afirmou que seu país está preparado para lidar com qualquer contingência. Analistas acreditam que o envio de satélite, ou o disparo de míssil, ocorreria em algum momento entre o fim de março e o início de abril, quando a nova legislatura da Coreia do Norte, eleita ontem, terá sua primeira sessão que deverá reconfirmar o autocrata Kim Jong Il como líder do país.
Eleições
Kim Jong Il foi reeleito ontem por unanimidade pelo Parlamento do país, informou hoje a mídia estatal da Coreia do Norte. A eleição foi observada de perto em busca de sinais de mudanças políticas ou de que o líder autocrático tenha escolhido um sucessor. Porém, nenhum dos três filhos de Kim estava entre os 686 outros legisladores anunciados pela mídia estatal. Relatos indicavam que o filho mais novo do mandatário, Kim Jong Un, concorria por uma cadeira no Parlamento. Isso levou a especulações dos analistas de que ele estava sendo preparado para herdar o poder.
A eleição de ontem, de partido único, teve o comparecimento de 99,98% dos eleitores, com o eleitorado escolhendo apenas um candidato para cada distrito do país, informou a Agência Central de Notícias da Coreia. Kim, com 67 anos, sofreu um derrame e uma cirurgia cerebral em agosto do ano passado, o que aumentou os temores de que a possível morte súbita do autocrata levasse a Coreia do Norte, um país com armas nucleares, à instabilidade. O governo negou que Kim estivesse doente e adiou a eleição do Parlamento até março deste ano. A nova assembleia deverá se reunir no começo de abril e reconfirmar Kim como líder e também dirigente da poderosa Comissão de Defesa Nacional.