A segunda e última semana da Conferência do Clima em Copenhague – o maior evento diplomático da história, com mais de 45 mil inscritos – começou com uma impressionante demonstração de desorganização. Mais de 10 mil pessoas ficaram presas por mais de sete horas, em temperaturas abaixo de zero, do lado de fora do Bella Center, o centro de convenções onde ocorre a reunião, à espera de autorização para entrar no prédio e receber credenciais. A metade delas não conseguiu passar do portão e foi mandada embora sem chances de participar da semana decisiva de um encontro que vem sendo preparado há um ano, apenas com a instrução de “voltar outro dia”.

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Nenhuma explicação foi dada pela organização – no site do encontro, a confusão foi solenemente ignorada. De acordo com seguranças, a multidão “surpreendeu”, apesar de todos os que foram ao local ontem estarem pré-credenciados. No lugar onde as credenciais deveriam ser feitas, havia apenas cerca de 20 atendentes para milhares de candidatos ao pedaço de plástico que daria direito a entrar na conferência.

Kit Yau, vice-presidente assistente da empresa de reflorestamento chinês Sino-Forest, chegou às 7h15 ao Bella Center. Só conseguiu sua credencial às 14 horas. “Não vi nada parecido nem em países famosos pela desorganização. Tivemos de esperar no frio, na neve, sem banheiro, sem água. É inacreditável.”

Não foram apenas jornalistas e representantes de organizações não-governamentais (ONGs) os presos na fila. Um ministro da Turquia e uma das palestrantes ficaram horas à espera até serem descobertos e passados à frente. Apesar da revolta dos que esperavam, que cobravam explicações aos gritos – ou pelo menos o direito de ir ao banheiro -, ninguém da organização apareceu. Coube aos seguranças tentar dar informações que simplesmente não existiam.

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Negociações

A ausência de propostas concretas por parte de nações industrializadas para a renovação do Protocolo de Kyoto levou ontem representantes de países africanos a paralisar a 15ª Conferência do Clima (COP-15) das Nações Unidas. O novo impasse, também motivado por quebra de confiança na presidência do evento – que convidou 48 ministros para negociar em separado no domingo, alijando mais de uma centena -, tornou mais concreto o risco de fracasso nas negociações, que acabam na sexta.

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Inconformado com a falta de compromisso dos países industrializados, um grupo de negociadores africanos se retirou da reunião que discutia o texto-base do eventual “Protocolo de Copenhague”. A decisão, que bloqueou a negociação, recebeu o apoio formal do G77, o grupo dos países em desenvolvimento, com apoio explícito da China.

Em represália à ação do G77, Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Japão, Rússia, Ucrânia e Finlândia bloquearam as discussões em outra plenária, sobre a renovação do Protocolo de Kyoto. O impasse só foi desatado no meio da tarde, com a retomada das reuniões sem que um acordo tivesse sido de fato alcançado.