Ninguém torce tanto pelo sucesso da Copa do Mundo quanto o presidente da África do Sul, Jacob Zuma – com 67 anos, 5 casamentos, 20 filhos e algumas amantes. O aumento do desemprego e a notória falta de liderança, segundo analistas, consumiram a paciência de setores importantes do Congresso Nacional Africano (CNA), o partido governista. Mal começou seu segundo ano de mandato, Zuma já enfrenta a pior crise de seu governo.
“A sobrevivência política do presidente depende do sucesso da Copa”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo Anthony Butler, diretor do Departamento de Estudos Políticos da Universidade de Witwatersrand, de Johannesburgo. “Qualquer sinal de fracasso pode lhe custar o cargo.”
Para azar de Zuma, o sucesso do torneio não depende só do desempenho dos Bafana Bafana, a seleção local. O que pode arruiná-lo é o gargalo nos transportes, a criminalidade e um papelão da organização do Mundial, que para muitos representaria a humilhação internacional do país.
Como exemplo, Butler cita a seleção brasileira, que jogará duas vezes em Johannesburgo, cidade mais violenta da África do Sul, e uma em Bloemfontein, que fica a 400 quilômetros dali. “As viagens são longas e a ligação aérea é precária. O Brasil arrasta um séquito de torcedores e jornalistas. Como será o deslocamento deles?”, questiona. “Além disso, se houver casos de violência, assaltos ou morte de estrangeiros, Zuma terá problemas para manter-se no poder.”
A frustração parece certa em pelo menos um aspecto. Os 500 mil turistas estrangeiros não virão – serão apenas 200 mil, segundo as últimas estimativas. A criminalidade, a crise financeira internacional e a falta de voos fizeram muita gente cancelar as reservas de hotel. Dos US$ 7 bilhões de receita previstos pelo governo, devem vir apenas US$ 3 bilhões.