A coordenação atabalhoada da ajuda internacional ao Haiti gerou atrito entre o Brasil e os Estados Unidos sobre o comando dessas operações. Hoje, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, telefonou para a secretária de Estado, Hillary Clinton, para queixar-se do controle americano sobre o aeroporto de Porto Príncipe. Os controladores teriam impedido a aterrissagem de aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) carregadas de materiais urgentes para a população haitiana e as tropas do Brasil na Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah).
“Tudo isso pode ser visto como algo natural, porque há muitos voos de muitos países para chegar. Mas é importante ter a clareza de que nós (o Brasil) estamos sendo tratados com a prioridade adequada”, defendeu Amorim à imprensa, durante visita ao Núcleo de Atendimento a Brasileiros no Exterior (NAB) do Itamaraty.
A queixa de Amorim deu-se horas depois de uma crítica do ministro da Defesa, Nelson Jobim, ao comando “unilateral” dos EUA sobre o tráfego aéreo no Haiti. Essa situação também havia sido relatada a Amorim, hoje, pelo embaixador brasileiro em Porto Príncipe, Igor Kipman.
Segundo o chanceler, Hillary Clinton reiterou que o Brasil tem a liderança das operações humanitárias e de manutenção da ordem no país e que, portanto, sua ajuda terá a prioridade adequada. Segundo Amorim, Hillary mostrou-se especialmente preocupada em diluir e evitar “mal-entendidos” e comprometeu-se a tomar providências.
Ainda hoje, por instrução de Amorim, a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luísa Viotti, buscou informações sobre o caráter da presença das forças americanas no Haiti. A delegação americana na ONU teria confirmado a Maria Luisa que essas tropas têm missão humanitária e não interferirão nos trabalhos da Minustah, comandada pelo Brasil. De acordo com o chanceler, o governo brasileiro deverá propor ao Conselho de Segurança da ONU a mudança do mandato da Minustah, para incluir atribuições e envolver mais tropas, apenas em uma etapa posterior.
Recursos
Com Hillary Clinton, Amorim retomou também as conversas sobre a organização de uma nova Conferência de Doadores para o Haiti, para angariar recursos emergenciais ao país. Essa conferência agrega mais de 20 países, entre os quais o Brasil, os Estados Unidos, a França e o Canadá, e organismos internacionais. Segundo o chanceler, Hillary reiterou o interesse do governo americano nesse encontro que, na opinião do governo brasileiro, deve ocorrer sob a égide das Nações Unidas. As gestões diplomáticas já começaram, mas nenhuma data foi ainda definida.
“O momento é de emergência. Cada um está fazendo o que pode. O importante é coordenar para evitar problemas no terreno. Às vezes, quando há muita gente querendo ajudar ao mesmo tempo, um esbarra no outro, e não dá certo”, desabafou Amorim. “Então, temos de coordenar no terreno, com respeito claro à Minustah, que é a força oficial das Nações Unidas (no Haiti)”.