Diminuir o sacrifício de animais nos centros de controle de zoonoses, as mordeduras provocadas por cães e, ao mesmo tempo, atuar numa questão de saúde pública. Foi com essa idéia que teve início há cerca de dois anos o projeto de extensão "Controle de Zoonoses na Região Metropolitana de Curitiba" promovido pelo Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná.
O objetivo inicial era trabalhar com a esterilização de animais em regiões de populações de baixa renda. Mas, ao longo do trabalho, o que se viu era que a castração não resolve o problema. "Era um primeiro caminho – porque mobilizava toda a comunidade – mas não resolvia a questão como um todo", emenda o coordenador do projeto professor Alexander Biondo. "O que percebemos é que não adianta controlar zoonoses e esterilizar animais sem que fosse trabalhada a educação em saúde".
Cão na escola
Uma solução encontrada, e que vem trazendo excelentes resultados, foi trabalhar na formação de disseminadores de informações, ou seja, educar as crianças de uma forma efetiva para que elas levassem a questão da posse responsável para dentro de suas casas, para dentro de suas comunidades. Foram assim que surgiram duas ações dentro do projeto de extensão: "Cão na Escola" e "Veterinário Mirim".
"É provado que o convívio humano com um animal doméstico melhora a interação com outras pessoas e auxilia no cognitivismo pessoal, formando um cidadão mais consciente", comenta Biondo. "Assim pensamos numa ação que pudesse ser desenvolvida dentro de uma escola de ensino fundamental. Nele atuam não apenas os nossos alunos da Veterinária, como pedagogas da Secretaria de Educação de São José dos Pinhais e veterinários do CCZ – Centro de Controle de Zoonoses do município."
Uma cadela jovem, pequena, dócil e saudável foi resgatada das ruas, vacinada e desverminada passando também por uma quarentena. Depois de toda a fase de "preparação" ela foi introduzida na rotina da Escola Municipal Emílio de Menezes que agora têm atividades envolvendo a mascote. "Fazemos palestras, apresentamos vídeos e vamos fazer um sorteio onde será escolhido o nome da cadela", explica o professor Biondo. "Com atividades que parecem apenas lúdicas, o que queremos é trabalhar a relação homem-animal e, ao mesmo tempo, obter dados mensuráveis referentes ao nível de informações sobre posse responsável e controle de zoonoses que essas crianças possuem, avaliando também como será o progresso delas ao longo do projeto."
Uma pedagoga da escola ajuda no desenvolvimento de todo o trabalho que também é acompanhado de perto pelos alunos da UFPR e pela equipe de uma pet shop colaboradora (Txucão) que prestará todos os cuidados básicos como banhos e alimentação.
Veterinário Mirim
Nos municípios de Paranaguá e Pinhais é a atividade do Veterinário Mirim que vem movimentando várias escolas das redes municipais de ensino. Um concurso faz os alunos redigirem um texto abordando a questão da posse responsável. Os vencedores passarão o Dia do Veterinário acompanhando a rotina dos profissionais no Hospital Veterinário da UFPR.
"O dia 9 de setembro é o Dia do Veterinário", conta Biondo. "Vamos marcar a visita para o dia 13, porque o número de escolas envolvidas é bem grande e ainda vamos julgar os textos. Os vencedores irão receber um kit de veterinário, com avental, estetoscópio e um termômetro."
Em Pinhais a parceria é com o CCZ que já começa a pensar não apenas nos resultados imediatos, mas também nos de longo prazo. "Aqui os alunos estão respondendo a uma pergunta: ‘Qual a melhor solução para o problema dos animais de rua’", explica a veterinária responsável do CCZ de Pinhais Roberta Schaefer Mouchbahani. "Estamos trabalhando com duas escolas-piloto, envolvendo quase 600 crianças. No ano que vem queremos envolver todas as 25 escolas do município."
Atuando há um ano, o CCZ de Pinhais trabalha com a coleta seletiva, recolhendo e sacrificando – apenas quando necessário – somente os animais que podem realmente transmitir zoonoses. Tudo é feito mediante a permissão do proprietário. "Mesmo com o uso de anestesia e de todos os cuidados para evitar o sofrimento do animal, queremos reduzir o número de eutanásias", diz a médica. "No ano que vem, queremos inclusive trazer os alunos aqui para que eles possam conhecer o CCZ e apagar aquela antiga imagem da carrocinha."
Paranaguá
Em Paranaguá 150 escolas devem participar do concurso. Elas estão sendo visitadas por uma equipe formada por integrantes da SPAP – Sociedade Protetora dos Animais e da Patrulha Ambiental do município.
"Aqui conseguimos o apoio da Prefeitura e da Secretaria Municipal de Desenvolvimento, além de empresas particulares e de clínicas veterinárias", comemora Lourilis Francis Nogueira, promotora de bem-estar animal da SPAP. "Estamos nos surpreendendo porque os próprios pais estão ajudando as crianças a responder a questão do concurso."
Um dia no hospital veterinário
Devem visitar o Hospital Veterinário da UFPR na comemoração do Dia do Veterinário pelo menos 10 crianças vencedoras do concurso em Pinhais e Paranaguá. "O caminho da educação e saúde ainda é o mais barato", comenta Alexander Biondo. "Mesmo com campanhas de esterilização sabe-se que a cada ano pelo menos 25% dos cães são repostos na comunidade. Ou seja, elas precisam ser freqüentes. Por isso é tão importante envolver de forma cada vez mais maciça a comunidade na resolução do problema", finaliza.