O Congresso peruano decidiu, na noite desta segunda-feira (9), afastar o presidente Martín Vizcarra de seu cargo, de acordo com o artigo 113 da Constituição, declarando-o com “incapacidade moral” de continuar no posto.
Após quase 12 horas de sessão, o resultado foi de 105 votos a favor do afastamento, 19 contra e 4 abstenções. Com esse resultado, Manuel Merino, líder do Congresso, do partido de centro-direita Ação Popular, deve ocupar o cargo até julho do próximo ano. Haverá eleições presidenciais no Peru em 11 de abril de 2021.
Votaram pelo afastamento de Vizcarra a maioria dos integrantes dos partidos Ação Popular, Frepap, Força Popular (fujimorismo) e Podemos Perú.
Esse foi o segundo pedido de vacância, equivalente ao “impeachment” no Brasil, pedido pelo Congresso contra Vizcarra. No primeiro, não foram atingidos os votos necessários. O mandatário estava no cargo desde a renúncia de Pedro Pablo Kuczynski, em 2018.
Assim como Vizcarra, PPK também foi acusado de corrupção. Hoje, Kuczynski cumpre prisão domiciliar e é investigado por supostamente ter recebido pagamentos irregulares da empreiteira brasileira Odebrecht na época em que trabalhou na gestão do ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006), também processado pelo mesmo caso.
Vizcarra, por sua vez, responde à acusação de ter favorecido com dinheiro do Estado a um amigo, o cantor e compositor Richard Swing. E de ter recebido subornos de construtoras. Desde a primeira votação de vacância até esta, surgiram, também trocas de mensagem de WhatsApp que mostravam o suposto recebimento de subornos por parte de Vizcarra.
Vizcarra foi muito evasivo em sua defesa, na manhã desta segunda-feira (9). Apenas alertou para os perigos de uma provável vacância em tempos de pandemia e a poucos meses de uma nova eleição.
Também declarou que, se fosse para julgar cada suspeito de corrupção, vários membros do Congresso, assim como Merino, estariam com o cargo em jogo. “O pior que podemos fazer justo agora é afundar o país no terreno da instabilidade”, argumentou Vizcarra.
Até a noite de domingo (8), as projeções eram de que não haveria mais de 60 votos pedindo o afastamento do presidente, sendo que o necessário era de 87 votos. Ao longo do dia, porém, e depois da intervenção do próprio Vizcarra, os discursos dos congressistas foram tendo um tom cada vez mais agressivo contra o mandatário, responsabilizando-o, também, pelo fato de o Peru ter tido uma má performance no combate à pandemia do coronavírus.