O Congresso da Bolívia convocou nesta terça-feira (21) o referendo sobre a nova Constituição do país para o dia 25 de janeiro de 2009, dando ao presidente do país, Evo Morales, uma difícil vitória, em meio à sua tentativa de refundar o país mais pobre da América do Sul. Morales chorou enquanto caminhava nas ruas centrais de La Paz junto a milhares de partidários, que comemoravam a passagem da convocação do referendo. Se aprovada, a nova Constituição deverá aumentar os poderes da maioria indígena da Bolívia, oprimida há séculos.

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Segunda (20), Evo concordou em desistir de disputar um terceiro mandato presidencial nas eleições de 2014, em troca do apoio da oposição para a passagem da convocação do referendo. A proposta de Constituição de Evo tem um forte apoio da população indígena, mas conta com a oposição das classes média e alta dos quatro departamentos (Estados) do leste da Bolívia. Os departamentos do leste dizem que Morales tenta centralizar e aumentar seus poderes, enquanto ignora os pedidos de autonomia das regiões.

De qualquer maneira, as negociações no final da tarde de ontem levaram a um compromisso sobre a questão da autonomia dos departamentos. “Esse bebê não é perfeito, como muitos disseram”, disse Alejandro Colanzi, deputado do Partido da Unidade Nacional, centrista e de oposição. “Mas é nosso filho e não podemos negá-lo. Talvez a vida ajude a aperfeiçoá-lo”, disse o deputado, referindo-se ao acordo entre governo e oposição, que destravou o impasse político na Bolívia.

Nova Constituição

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A Constituição que irá a sufrágio em 25 de janeiro, se aprovada, deixará Evo servir por dois mandatos consecutivos, enquanto a Constituição atual proíbe a reeleição. A concessão de Evo à oposição é que o mandato dele atual contará nesse período – ele não poderá disputar a reeleição em 2014, se vencer as eleições gerais de 6 de dezembro de 2009. O mandato atual de Evo também foi encurtado – ele foi eleito presidente em dezembro de 2005 para governar por cinco anos, a contar de janeiro de 2006, quando tomou posse.

A nova Constituição trará uma série de direitos aos povos indígenas, que terão autonomia sobre suas terras tradicionais e uma fatia “prioritária” na distribuição do faturamento obtido com a venda das riquezas naturais do país. Antes, Morales argumentava que o próximo mandato seria o primeiro com a nova Carta, o que lhe permitiria ainda buscar uma reeleição em 2014.

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A oposição denunciou a iniciativa como uma tentativa do presidente de se perpetuar no cargo. Pela lei atual na Bolívia, o presidente pode ocupar a presidência apenas por dois mandatos, não consecutivos. Em um referendo revocatório convocado em agosto, Morales foi mantido no cargo após ser aprovado por 67% dos bolivianos. Espera-se que a nova Carta seja aprovada sem dificuldades.