Pelo menos 300 civis ficaram feridos e teme-se que muitos tenham morrido ontem pelas bombas de artilharia disparadas contra uma “zona de segurança” designada para tâmeis étnicos encurralados pelos confrontos entre os militares cingaleses e os rebeldes tâmeis, disse nesta terça-feira (27) um suposto funcionário de saúde. Os ataques ocorrem na medida em que os rebeldes continuam a recuar, levando suas forças e civis para as últimas áreas de floresta fechada ainda sob seu controle e deixando para trás cidades desocupadas.
O TamilNet, um site na internet favorável aos rebeldes, disse que mais de 300 civis foram mortos pelos ataques de ontem. Os militares negam ter atirado contra a região. O porta-voz da Organização das Nações Unidas (ONU), Gordon Weiss, disse que viu “dezenas de pessoas mortas e feridas” na zona de segurança nos últimos dias, dentre elas dez civis mortos na segunda-feira. Ele disse que não sabe quem foi responsável pelos tiros na região. Mas o funcionário de saúde, que falou em condição de anonimato por temer represálias do governo, disse acreditar que o governo foi responsável pelas vítimas por causa da direção da qual vieram os tiros.
O funcionário disse que centenas de feridos chegaram aos hospitais próximos, mas continua difícil obter o número total de vítimas na zona de segurança de 35 quilômetros quadrados perto de Mullaittivu. Nesta terça-feira foi permitido o acesso de jornalistas a Mullaittivu, a última cidade mantida pelos rebeldes antes do avanço do governo na semana passada. Os meios de comunicação têm sido impedidos de chegarem às linhas de frente e era impossível entrar na “zona de segurança” para verificar os relatos de vítimas.
Apenas os barulhos de gaivotas e o estrondo distante da artilharia podia ser ouvido nesta cidade à beira-mar que foi esvaziada pelos rebeldes. Na medida em que as forças do Exército chegaram, os rebeldes aparentemente mandaram os moradores paras as áreas de floresta sob seu controle e retiraram da cidade tudo o que parecia útil. Os únicos sinais de vida no local nesta terça-feira eram um bando de soldados patrulhando as ruas.
Segurança
Grupos de direitos humanos e diplomatas expressaram suas preocupações sobre a segurança de civis – cujo número estimado é de 150 mil a 400 mil – no território sob controle rebelde, uma área de cerca de 300 quilômetros quadrados. O governo diz que o número de civis é bem menor. O governo declarou unilateralmente a “zona de segurança” na semana passada numa pequena seção do território ocupado pelos rebeldes e pediu para que os civis fossem para a área, onde seriam protegidos. Mas tem havido vários relatos de fogo de artilharia na região, incluindo as bombas de segunda-feira.
O funcionário de saúde disse que pelo menos 300 vítimas do ataque foram levadas ao hospital de Puthukudiyiruppu, localizado a cerca de 16 quilômetros a oeste de Mullaittivu. Parentes disseram a ele que já haviam enterrado os mortos ou abandonado os corpos na beira das estradas quando fugiram de ataques.
Um comboio de ambulâncias, carros e caminhões tentou levar nesta terça-feira cerca de 250 pessoas seriamente feridas de Puthukudiyiruppu para um hospital melhor na cidade de Vavuniya, que fica fora de zona de guerra, mas foi forçado a voltar depois de ser informado pela Cruz Vermelha que a estrada havia sido fechada, disse o funcionário. Ainda não está claro quem fechou a estrada ou as razões que levaram ao fechamento.
O porta-voz do Exército, brigadeiro Udaya Nanayakkara, negou que soldados tenham atirado contra a zona de segurança e disse que civis não foram o alvo durante os combates no norte do Sri Lanka. Ele afirmou que possíveis vítimas civis eram rebeldes com roupas civis ou mesmo civis forçados pelos insurgentes a construir fortificações.
