Sanaa, 24 – Combates tomaram conta da cidade de Sanaa, neste sábado, e deixaram pelo menos 40 mortos, após forças leais ao presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, entrarem em confronto com soldados opositores enquanto tentavam esvaziar o acampamento de insurgentes na praça central da capital do país. A praça se tornou o epicentro da insurreição do Iêmen.
A mais recente onda de violência aconteceu um dia depois de Saleh ter voltado ao país após passar três meses na Arábia Saudita desde uma tentativa de assassinato contra ele em junho. O retorno de Saleh, aparentemente, tem o intuito de garantir sua permanência no poder, na medida em que forças leais ao seu governo e seus adversários travam uma guerra urbana em Sanaa.
As força de Saleh estavam lutando em três frentes neste sábado. No noroeste da Sanaa, morteiros foram disparados contra a sede da 1ª Divisão Blindada, liderada pelo major general Ali Mohsen el-Ahmar, um ex-aliado de Saleh que meses atrás mudou de lado e engrossou a frente opositora. Os seus seguidores têm desde então protegido diariamente os manifestantes acampados e as marchas pela mudança realizadas na praça central da capital. Onze soldados das tropas de al-Ahmar foram mortos no bombardeio e 112 ficaram feridos, de acordo com Abdel-Ghani al-Shimiri, um porta-voz dos soldados vira-casaca.
Ao redor da praça, as forças da Guarda Republicana, liderada pelo filho de Saleh, Ahmed, juntamente com as forças de segurança lutaram contra tropas de al-Ahmar em uma tentativa de evacuar a praça e colocar um fim aos protestos que já duram mais de sete meses e que exigem a demissão de Saleh.
Usando aviões e armas automáticas, forças da Guarda intensificaram o bombardeio nas ruas ao redor da praça, enquanto um grande número de atiradores disparavam dos telhados contra os manifestantes.
Mohammed al-Qabati, um médico que trabalha no hospital de campo criado no quadrado, afirmou que 29 pessoas morreram ali desde a madrugada sábado, com vítimas dos dois lados do confronto. Ele disse que 54 pessoas também ficaram feridas no ataque.
Enquanto isso, o ministro do Interior do Iêmen, o general Mouthar al-Masri, disse, neste sábado, que oito soldados do governo foram mortos e dezenas de outros foram feridos. Al-Masri não entrou em detalhes quando ou como as baixas ocorreram, e não estava claro se ele estava se referindo à violência em Sanaa ou em outro lugar.
A terceira frente das tropas leais a Saleh está concentrada em torno de Hassaba, no distrito de Sanaa Hassaba. Confrontos registrados nesta área nos últimos dois dias entre as forças governamentais e opositores tribais mataram 18 combatentes tribais, de acordo com uma declaração
sábado de moradores da área. Hassaba é o lar do mais poderoso grupo tribal do Iêmen, o Hashid, liderada pelo Sheik Sadeq al-Ahmar, outro inimigo de Saleh.
O derramamento de sangue deste sábado também reforçou os temores de que a presença de Saleh no
país intensifique o conflito.
A sua volta pegou a Casa Branca desprevenida. Autoridades dos EUA admitiram que foi uma surpresa e afirmaram que a secretária de Estado, Hillary Rodham Clinton, não foi informada sobre os planos de Saleh quando ela se reuniu, na terça-feira, em Nova York, com o ministro de Relações Internacionais da Arábia Saudita, que tem participado com Washington e o Iêmen das negociações para se tentar um acordo que permita a transferência de poder.
A busca de um ambiente mais estável no Iêmen, uma estratégica nação empobrecida árabe, é uma prioridade para os Estados Unidos, que querem um parceiro na luta contra um dos ramos mais ativos da Al-Qaeda, que tem sua base no país.
O levante do Iêmen começou em fevereiro na esteira da agitação que se espalhou por todo o mundo árabe e que acabou desencadeando protestos, em grande parte pacíficos, neste canto profundamente instável do Península Arábica. O governo de Saleh respondeu com uma ofensiva pesada, o que deixou centenas de mortos e milhares de feridos.
Com as vítimas deste sábado, chega a 140 o número de pessoas mortas nesta violenta semana no Iêmen. A maioria dos mortos está em Sanaa, onde muitos moradores estão encurralados em suas casas ou fugiram da cidade. As informações são da Associated Press.