O presidente francês, François Hollande, recebeu de seus compatriotas neste domingo o aval para aplicar sua política graças à maioria absoluta conquistada pelo Partido Socialista no segundo turno das eleições legislativas. Os eleitores franceses deram aos socialistas e seus aliados mais próximos os instrumentos necessários para atuar sem as limitações de acordos com os ecologistas e a Frente de Esquerda.
Assim indicou imediatamente, antes mesmo de conhecer os resultados definitivos, o primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, assegurando que os cidadãos elegeram neste domingo “a coerência” e disse que na nova etapa “serão respeitadas escrupulosamente as prerrogativas do Parlamento”. O chefe do governo lembrou ainda que agora ficam pela frente os “grandes desafios europeus”, antes de insistir nos pilares da política de Hollande: “O objetivo é reorientar a Europa rumo ao crescimento e evitar as consequências da especulação”.
À espera de conhecer amanhã o resultado das 11 circunscrições estabelecidas para os franceses residentes no exterior, o Partido Socialista obteve 273 deputados, número que sobe para 307 ao somá-los com os 22 da coligação DVG, que aglutina pequenos partidos de esquerda, e os 12 conseguidos pelos radicais de esquerda. Esse nível de respaldo por parte dos eleitores isenta o partido de Hollande de ter de pactuar com os ecologistas e com os deputados da Frente de Esquerda as linhas fundamentais de suas políticas de reforma e as medidas de ajuste que permitam evitar as consequências da crise econômica.
O ministro de Finanças francês, Pierre Moscovici, declarou que no dia seguinte desta vitória dos socialistas não haverá “uma mensagem diferente” e lembrou que “há um calendário europeu”, que culmina com o Conselho Europeu do final de mês, e um “calendário nacional”, onde o objetivo está em “restabelecer o equilíbrio” das contas públicas. “Nosso projeto não é de austeridade”, advertiu Moscovici, que adiantou que o governo de Ayrault aplicará “esforços fiscais e sobre as despesas”.
Os ecologistas são parte da surpresa nas legislativas, já que conseguiram 16 deputados, 12 a mais que na legislatura anterior, enquanto a conservadora União por um Movimento Popular (UMP) foi a grande derrotada após ficar com 191 cadeiras, 106 a menos que na última Assembleia. Outro fator inesperado foi o fato de três dos políticos mais conhecidos da França, a socialista Ségolène Royal, a líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, e o centrista François Bayrou, terem ficado de fora do novo Parlamento francês.
Ségolène, ex-candidata às eleições presidenciais de 2007, foi derrotada por Olivier Falorni, um dissidente socialista, na circunscrição de Rochelle, após uma polêmica suscitada pelo suposto apoio da namorada do presidente da República, Valérie Trierweiler, a seu oponente. A candidata opinou que o tweet que supostamente a primeira-dama emitiu em apoio de Falorni a prejudicou.
“Poderia dizer com pudor que esse tipo de intromissão não facilita as coisas. Nunca é bom que haja intrusões na vida política, sobretudo quando enfrentamos disputas tão difíceis”, disse
Já Marine Le Pen, derrotada na circunscrição de Hénin-Beaumont (norte) pelo prefeito socialista Philippe Kemel, deixou aberta a porta para um possível pedido de recontagem dos votos, já que disse que ambos estavam separados por apenas 114 sufrágios.
A presidente do partido ultradireitista, no entanto, assegurou que os resultados são “espetaculares”, em aparente alusão ao acesso à Assembleia Nacional de sua sobrinha, Marion Maréchal-Le Pen. Esta se apresentava na circunscrição de Vaucluse (sudeste) contra candidatos da conservadora União por um Movimento Popular (UMP) e do Partido Socialista. Quanto a Bayrou, presidente do centrista MoDem, derrotado na circunscrição do departamento dos Pirineus-Atlânticos, reconheceu ter ficado fora da Assembleia Nacional e disse que assume uma “mudança na forma do compromisso” perante seus eleitores.
Bayrou, antigo aliado da conservadora União por um Movimento Popular (UMP), surpreendeu nas últimas eleições presidenciais ao recomendar o voto para o socialista François Hollande, o que suscitou críticas da direita francesa.