O chanceler da Colômbia, Carlos Holmes Trujillo, considerou os exercícios militares da Venezuela na fronteira como uma “ameaça direta” à estabilidade regional. A afirmação feita na quarta-feira, 4, é uma resposta à ordem do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, de realizar exercícios militares para responder ao receio de um possível ataque de forças colombianas.

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“É uma grande ameaça que reflete as consistentes ações do governo (Maduro), que criam situações de crise”, disse o chanceler colombiano. “É uma ameaça que não tem a ver só com a Colômbia, mas com a estabilidade e tranquilidade da região.”
Trujillo ainda esclareceu que tal ameaça “é sentida há muito tempo” na Colômbia. “É uma ameaça que provém do regime chavista e tem se prolongado durante o regime madurista”, defendeu, citando o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, morto em 2013.

Para o chanceler, “o regime ditatorial (de Maduro) favorece a presença de organizações terroristas em seu território, não só colombianas, mas de outras partes do mundo”.

Em junho, um dissidente do governo Maduro, o general Manuel Cristopher Figuera, detalhou a atuação de um braço do movimento libanês Hezbollah na Venezuela. O grupo teria negócios ilícitos no país para financiar operações simultaneamente com o Exército de Libertação Nacional (ELN), grupo guerrilheiro colombiano.
Os colombianos estão sob alerta desde a semana passada, quando dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) publicaram um vídeo em que anunciavam seu retorno à luta armada.

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As autoridades colombianas acreditam que a gravação tenha sido feita na Venezuela, aumentando a preocupação com um conflito armado na Colômbia e a expansão destes grupos na Venezuela. Na gravação, o líder das Farc, Iván Márquez, que chegou a participar das negociações do acordo de paz, em 2015, anunciou, ao lado de outros veteranos de guerra civil, que a antiga guerrilha inicia “uma nova etapa na luta armada”.

Além de declarar o alerta laranja na fronteira com a Colômbia, Maduro ordenou a realização de exercícios militares nos Estados de Zulia, Táchira, Apure e Amazonas, que compõem a fronteira de mais de 2 mil quilômetros de extensão compartilhada com a Colômbia. Os dois países têm se envolvido em diversos atritos na última década e não mantêm relações diplomáticas.

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Segundo Maduro, o governo da Colômbia, liderado pelo presidente Iván Duque, “agora implementa um falso positivo para agredir a Venezuela e começar um conflito militar contra nosso país”, disse.

Oposição

A Colômbia nega qualquer plano de atacar a Venezuela ou de permitir que os EUA iniciem uma ofensiva do solo colombiano. Tanto Bogotá como Washington reconhecem o presidente da Assembleia Nacional e autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, como o governante oficial do país.

A Assembleia Nacional e a Colômbia têm demonstrado apoio mútuo. O chanceler colombiano valorizou ontem a decisão da oposição venezuelana de classificar como organização terrorista a dissidência das Farc que decidiu pegar em armas novamente. O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela atribuiu o rearmamento dos dissidentes das Farc às falhas de Duque em cumprir o acordo de paz com o grupo.

Maduro chegou a dizer, em julho, que os líderes que retomaram as atividades armadas, Márquez e Jesús Santrich, “são bem-vindos” na Venezuela “quando quiserem vir”. O presidente também assinalou que esperava a presença deles na 25ª edição do Foro de São Paulo, que reuniu líderes de partidos de esquerda da América Latina em Caracas.

Na época, Márquez, Santrich e Hernán Velásquez Saldarriaga, conhecido como “El Paisa”, outro líder guerrilheiro, eram considerados desaparecidos pela Colômbia, já que não cumpriam havia meses seus compromissos com a Jurisdição Especial para a Paz (JEP). A aparição deles no Foro de São Paulo, o que não aconteceu, seria uma prova de que o governo de Maduro estaria cedendo o território venezuelano para o rearmamento das Farc.

Resistência

O acordo de paz entre as Farc e a Colômbia levou à desmobilização de mais de 13 mil rebeldes, incluindo 7 mil combatentes. O partido político legal das Farc, o Força Alternativa Revolucionária do Comum, criado com ex-integrantes do grupo que permanecem no acordo, condenou a decisão de alguns dos ex-membros. (com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.